Perto de completar 200 anos de sua vinda para o Brasil, a primeira imperatriz do breve período monárquico brasileiro, D. Leopoldina, acaba de ganhar uma exposição no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Quem pouco conhece a personagem logo imagina uma princesa de vida tranquila e luxuosa. Porém, nas quase mil cartas escritas pela arquiduquesa austríaca, essa imagem logo é desfeita: D. Leopoldina teve um importante papel no cenário político brasileiro e no processo de independência do país.
Além disso, a imperatriz tinha uma vida pessoal conturbada: convivia com a melancolia alimentada pelas traições de seu marido, o imperador D. Pedro I, o que a fez desejar inúmeras vezes retornar ao Velho Continente. Mas D. Leopoldina permaneceu no país, que aprendeu a amar, e colocou “o bem comum antes do desejo pessoal”, como ela mesma afirma em uma de suas correspondências.
D. Leopoldina tornou-se peça importante no processo de independência do Brasil, um “país grande demais e incapaz de ser colônia de uma corte pequena”, disse ela, referindo-se a Portugal em mais uma de suas cartas. Apesar de ser filha de Francisco II, um dos líderes do Congresso de Viena, conferência conservadora que redesenhou o mapa da Europa e retomou a colonização, a imperatriz via no Brasil um “liberalismo possível”, onde não haveria tanta participação do povo, nem derramamento de sangue e revoluções, fatores que marcavam a maioria dos movimentos liberais na Europa e eram combatidos pelas potências monarquistas europeias.
“Em 1823, no período de pós-independência brasileira, ela escreveu para o pai esclarecendo que o Brasil poderia ser um país amigo e aliado da Áustria”, contou a historiadora Andrea Slemian, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), durante seminário internacional sobre a imperatriz Leopoldina realizado no Museu Histórico Nacional. “Ela tranquilizou o pai, mostrando que haveria uma Câmara de Deputados, um Senado e um monarca no controle absoluto do país; isso foi fundamental para o reconhecimento da independência brasileira na Europa”, completa a pesquisadora.
Como se pode perceber, D. Leopoldina deixou importante documentação histórica em suas correspondências, que podem ser vistas de perto, junto com quadros e outros objetos do período em que ela viveu no país, na exposição ‘Com a palavra, D. Leopoldina, Imperatriz do Brasil’, inaugurada no dia 14 de outubro no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. A mostra pode ser visitada até 1º de março de 2015.
Museu Histórico Nacional
Praça Marechal Âncora, s/nº (próximo à Praça XV).
De 3ª a 6ª feira, das 10h às 17h30.
Sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h.
Ingresso: R$ 8,00 (aos domingos, a entrada é franca).
Tel.: (21) 3299-0324
Confira abaixo um passeio pela exposição
Lucas Lucariny
Ciência Hoje On-line