Ciência e ficção para jovens internautas

Livros de ficção que abordam temas científicos estão há séculos em circulação. Diversos autores se dedicam à tarefa e são inúmeras as formas de mesclar literatura e ciência. 

A comunicóloga e escritora carioca Laura Bergallo decidiu contribuir com uma nova possibilidade para esse já rico panorama. Desde 2002 ela investe numa versão moderna de ficção científica infantojuvenil que reúne ciência, tecnologia e as novas mídias sociais.

Operação buraco de minhocaO seu décimo livro – Operação buraco de minhoca – foi escolhido pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), do Ministério da Educação, e será distribuído em escolas públicas este ano.

Nele, um grupo de jovens quer salvar a Terra dos impactos do aquecimento global. Para isso, voltam no tempo – por um buraco de minhoca! – e tentam convencer as gerações antecessoras a cuidarem melhor do planeta.

Desde video game inspirado no poema épico Divina Comédia até anorexia na adolescência, a escritora – vencedora do prêmio Jabuti de 2007 – transita por assuntos variados e faz uma ponte entre os clássicos literários e os jovens internautas.

Medicina inspiradora

Laura dirige uma editora de publicações médicas, mas confessa que seu “grande barato” é mesmo a literatura para jovens e que sempre teve um pezinho na ciência.

A edição de textos técnicos da área de saúde serve de inspiração no processo de criação literária que, segundo ela, “é uma forma de exorcizar a carga pesada do conteúdo médico”.

Com o 16º livro no prelo, a escritora defende que a leitura deve ser lúdica e prazerosa e, ao mesmo tempo, pode trazer conhecimento. “Não acho que a literatura deva ter um caráter didático, mas pode servir para o aprendizado da criança como um efeito colateral”, afirma. 

“Não acho que a literatura deva ter um caráter didático, mas pode servir para o aprendizado da criança como um efeito colateral”

Para ela, a literatura infantojuvenil no Brasil está muito voltada para as escolas e, por isso, o autor precisa cativar professores – que serão responsáveis pela adoção ou não do livro – e alunos. “O problema é que você escreve para um público, mas é escolhido por outro”, ressalta. “Escrever em uma linguagem que agrade os dois é o grande desafio.”

A escritora acredita que incluir nos seus livros as redes sociais – como Facebook, Twitter e MSN – é uma forma de aproximar a garotada do universo literário. “Em um primeiro momento, devemos levar uma abordagem contemporânea para as crianças, que dialogue com elas”, afirma.

Quixote circense

Dom Quixote de La Plancha

Inspirada no Circo Nerino, que iniciou sua trajetória em Curitiba no início do século 20, Laura escreveu Dom Quixote de La Plancha, publicado este ano pela editora Escrita Fina. Jean Alonso, equilibrista prodígio, é um dos protagonistas do Gran Circo Cervantes. Na história, o menino – cujo apelido é homônimo ao título – leva um tombo que o faz trocar o picadeiro pela fila de transplante de rim.

Laura explica que a hemodiálise (filtragem artificial do sangue), medida necessária em casos de doença renal, é um sufoco para quem tem uma vida agitada e nômade, como um menino de circo. Esse foi o mote para tratar do assunto.

Para quem deseja se aprofundar nos temas científicos pincelados nas histórias, há mais informações sobre eles nas últimas páginas de Dom Quixote de La Plancha e dos demais títulos da autora. “Essa parte do livro é uma estratégia comum das editoras e ajuda os professores a utilizarem o assunto em sala de aula”, diz a escritora.

Gabriela Reznik
Ciência Hoje On-line