Ciência é informação

Uma casa aberta. Onde, por maior que seja a informação a ser compartilhada, ela sempre cabe. Assim é a internet para muita gente. Pessoas que usam esse espaço – que muitas vezes dá a impressão de ser fisicamente infinito – com vários fins, entre eles o profissional.

A ciência ainda engatinha quando o assunto é disponibilizar conteúdo na rede

Essa casa aberta ainda não é, no entanto, a realidade do meio científico. Por vários motivos. Seja pelo fato de ter de lidar com processos lentos de revisão por pares, seja pela publicação em revistas de acesso restrito, por falta de hábito e, às vezes, até por vaidade, a área ainda engatinha quando o assunto é disponibilizar conteúdo na rede.

Algumas iniciativas tentam romper com isso. Nas ciências exatas, muitos cientistas disponibilizam seus estudos no portal arXiv antes mesmo de eles serem aceitos para publicação em periódicos. Nas ciências da vida, há projetos como o Bio-Mirror, por exemplo, que dá acesso a sequências de genes e proteínas. Mas ainda são escassas as iniciativas que apontam para esse caminho.

Um dos impeditivos é que, cada vez mais, os arquivos nos quais os estudos são salvos aumentam em tamanho. E, por maior que seja a ilusão de que o espaço na internet é infinito, a premissa não é verdadeira. Há servidores, megacomputadores, responsáveis pelo armazenamento desses dados. É caro mantê-los.

Só não é tão caro, quando se divide a despesa. E é aí que entra a ideia do torrent. Trata-se de um tipo de compartilhamento peer-to-peer, ou seja, de par para par. É como se todos os computadores que possuem um determinado arquivo fossem também servidores do mesmo. Todo mundo compartilhando e fornecendo um pedacinho do documento.

Torrents para cientistas

O torrent já é bem usado na internet. Sobretudo para compartilhamento de filmes, livros, música. Enfim, para compartilhar informação cultural. No meio científico, ainda não. Por isso a ideia do portal BioTorrents, que entrou no ar recentemente, chama a atenção. Um portal que agrega todos os trackers que o cientista quiser enviar para a página. O tracker é uma espécie de ‘seta’ que aponta para onde, de fato, o arquivo está hospedado. Quanto mais pessoas baixam o arquivo via torrent, mais pessoas (computadores) são ‘hospedeiros’ desse arquivo.

O que o BioTorrents se propõe é agregar e organizar por meio de palavras-chave, temas e busca o conteúdo (torrent) disponibilizado pelo cientista. É, portanto, uma página temática. Assim como existem portais que organizam os torrents de música, o BioTorrents pretende organizar os de ciência. 

Ainda são poucos os usuários que usam o serviço. Há 25 arquivos em torrent disponíveis para baixar e 92 usuários cadastrados. A maioria dos estudos que estão no portal é da área de genômica – um campo que lida com um volume imenso de dados e no qual a bioinformática tem papel essencial. Mas já estão sendo compartilhados também dados da área de química, por exemplo.

O objetivo é cuidar para que os dados científicos disponibilizados em torrent não se percam na internet

Esta semana, o projeto BioTorrents ganhou destaque em um artigo publicado no periódico de acesso livre PLoS One. Assinado pelo idealizador do projeto, Morgan Langille, o texto explica o objetivo maior da iniciativa – cuidar para que as informações científicas disponibilizadas em torrent não se percam na internet.

Os motivos para que isso aconteça são vários. Por exemplo: o servidor em que o dado foi publicado pode sair do ar, ou o arquivo pode ser danificado. Por isso, ele garante, o BioTorrents duplica todo material que é enviado para lá, criando automaticamente ao menos um computador-servidor do qual o dado poderá ser baixado.

A outra razão da criação da página – e talvez essa seja a principal – é a velocidade com que as informações poderão ser compartilhadas. Nas palavras de Langille:     

O BioTorrents permite que os pesquisadores disponibilizem os seus dados imediatamente, sem a exigência de um processo de apresentação oficial […]. Essa forma de publicação de dados permite o acesso livre e rápido à informação. [O torrent]  poderia acelerar a ciência, especialmente em eventos que acontecem de modo muito rápido, como os recentes surtos de H1N1 ou da síndrome respiratória aguda severa (Sars)

Para saber mais sobre o projeto, acesse a página do BioTorrents.

 

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line