Ciencia Hoy: 25 anos de divulgação

Tive a feliz oportunidade de participar da comemoração dos 25 anos de nossa revista irmã, Ciencia Hoy, lançada em dezembro de 1988 por um grupo de cientistas argentinos inspirados pelo então bem-sucedido modelo da similar brasileira Ciência Hoje. A festa reuniu na última quinta-feira (21/11) cerca de 150 pessoas no auditório do belo Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, no Parque Centenário, em Buenos Aires, e contou com a presença do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva, Lino Barañao, e do presidente do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), Roberto Salvarezza, entre outras personalidades.

O físico Aníbal Gattone, um dos editores de Ciencia Hoy e secretário de ciência da Universidade Nacional de San Martín, abriu o encontro fazendo uma retrospectiva dos principais fatos que antecederam a criação da revista, entre eles reuniões que buscavam fortalecer os vínculos na área científica entre Brasil e Argentina. Gattone lembrou a fundamental participação do físico brasileiro Ennio Candotti que, no início de 1988, mudou-se com a família para Buenos Aires para passar um ano sabático e contribuir assim com o impulso inicial necessário ao lançamento da publicação.

A pré-história de Ciencia Hoy 

Gattone leu trechos de uma crônica escrita por Candotti para a publicação comemorativa dos 10 anos de Ciencia Hoy que bem retratam a pré-história da revista. “Quando em 2 de dezembro de 1986, com José Albertino Rodrigues e Roberto Lent, representando a Ciência Hoje, viajamos a Buenos Aires, seguíamos uma rota discutida com cientistas argentinos, então residentes no Rio de Janeiro, entre os quais estavam Juan Alberto Mignaco, Juan José Giambiagi, Mario e Miriam Giambiagi. Tínhamos o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia brasileiro. Estava claro para nós que participávamos de um programa de cooperação política mais amplo, no qual queríamos incluir a ciência e a tecnologia. Para isso, era necessário aproximar as sociedades científicas, promover o intercâmbio de estudantes e pesquisadores, criar um grupo de pressão capaz de imaginar brasileiros e argentinos juntos, não só na divulgação da ciência mas também na criação de centros de pesquisa multinacionais na região.”

Barañao: “Hoje a Ciencia Hoy é uma revista de referência em divulgação científica: transmite à população as pesquisas desenvolvidas no país sem deturpar a informação”

Ainda segundo Candotti, guiados por esse objetivo, pesquisadores argentinos e brasileiros deram início a encontros – em 1986 e 1987 – que viriam a fortalecer os laços entre as comunidades científicas locais. O hoje ministro Lino Barañao chegou a participar de uma reunião do conselho editorial de Ciência Hoje, em que se discutiu mais concretamente a criação de uma associação civil que fosse responsável pela concepção e realização da nova revista.

“Voltei do Rio totalmente incrédulo”, comentou Barañao durante o evento. “Achei que não tínhamos a menor condição de fazer uma revista similar à Ciência Hoje aqui na Argentina. Ainda bem que os outros colegas acreditaram no projeto e toparam o desafio. Hoje a Ciencia Hoy é uma revista de referência em divulgação científica: transmite à população as pesquisas desenvolvidas no país sem deturpar a informação”, completou.

A importância de divulgar

O biólogo Pablo Penchaszadeh, diretor de Ciencia Hoy, lembrou a importância do apoio do Conicet ao longo desses 25 anos e destacou que a divulgação científica hoje é fundamental para a democratização do conhecimento.

capa Ciencia Hoy 25 anosEle anunciou os novos projetos da publicação: o lançamento de um suplemento dedicado às crianças, Ciencia Hoy de los Chicos, cujo primeiro exemplar saiu encartado na edição especial do 25° aniversário, e a renovação da página da internet a partir de dezembro deste ano. 

Roberto Salvarezza elogiou o empenho da revista em democratizar o conhecimento, em meio às adversidades por que passou a ciência na Argentina nas últimas décadas. O diretor do Conicet reforçou ainda a necessidade de que as pessoas entendam que a ciência que se faz no país é de qualidade. “Não se trata apenas de uma atividade cultural; a ciência deve ter um impacto social e econômico na sociedade”, ponderou Salvarezza.

Barañao ressaltou que a divulgação não deve ser considerada uma atividade menor e sim a primeira responsabilidade que o pesquisador tem para com a sociedade. “A divulgação é importante para despertar novas vocações científicas”, disse o ministro, mencionando o papel que a ficção pode ter nesse sentido. “A ciência tem que entrar na agenda de Hollywood e na nossa filmografia. Quando os Estados Unidos precisavam de médicos, lançaram a série de TV Plantão médico (Emergency Room) e o resultado foi impactante; se quisermos atrair os jovens para as carreiras científicas, precisamos atuar no campo da divulgação e da ficção.”

Personalidades em evento de Ciencia Hoy
O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva da Argentina, Lino Barañao, o diretor de Ciencia Hoy, Pablo Penchaszadeh, e o diretor do Conicet, Roberto Salvarezza, destacaram a importância da divulgação da ciência na democratização do conhecimento. (foto: Conicet)

Como convidada a apresentar a experiência da Ciência Hoje, pude sinalizar o que acredito que sejam os novos desafios para nossas revistas: oferecer um conteúdo confiável, de qualidade, de forma simples, clara e objetiva é básico, mas já não é suficiente. Na minha opinião, temos que ser capazes de surpreender e emocionar o público. Porque sabemos que a aprendizagem ocorre de forma natural, sobretudo quando se baseia em experiências sensoriais. Por isso, costumam ter mais impacto as reportagens e os artigos que conseguem tocar nossos sentidos e despertam nossa curiosidade, como ocorre com a poesia, a arte e a literatura. 

Particularmente, acredito que com essa abordagem sensitiva, o público será mais permeável à ciência e não apenas poderá como também desejará participar da aventura do conhecimento. É então que ocorre a verdadeira transformação do leitor e, como consequência, da sociedade: impregnados dessa nova sensibilidade, as pessoas poderão mudar e escolher seu olhar sobre o mundo.

Alicia Ivanissevich
Ciência Hoje/ RJ