Ciência no papel-jornal

Aquele momento do muro que dividia Berlim Oriental e Ocidental sendo derrubado marcou a infância de quem nasceu na década de 1980. Não se tinha dúvida de que os jornais de novembro de 1989 fariam parte de acervos que contam a história do mundo.

Mergulhamos na ‘história escrita em jornais’

Já mais velho, esses mesmos que guardaram a imagem do muro sendo destruído tiveram certeza análoga sobre os jornais que sucederam o fatídico 11 de setembro de 2001. Há eventos em que não se tem dúvida: a notícia sobre um fato é, de certo modo, a história sendo escrita no presente.

Pois bem: foi com este olhar, à procura da ‘história escrita em jornais’, que mergulhamos nos arquivos do jornal Última Hora, recentemente liberado para pesquisa na internet pelo Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Fomos atrás – entre as mais de 54 mil imagens e centenas de jornais digitalizados – daquilo que de mais relevante e curioso foi publicado sobre ciência e história nas décadas de 1950 e 1960, época em que o periódico de Samuel Wainer circulou. 

Conhecido por ser um jornal da ala governista (tinha apoio de Getúlio Vargas e, depois, de Juscelino Kubitschek e Jango), o Última Hora perdeu força com a ditadura, até fechar suas portas em 1971.

O que publicou durante o seu período áureo, no entanto, é de grande valor para a história da ciência. Ajuda, inclusive, a entender a batalha de dois mundos (comunista e capitalista) por tecnologia durante a Guerra Fria.

Teste de bomba na Rússia
Em 1961, a Rússia, de modo ainda obscuro, começava a testar a bomba de hidrogênio mais poderosa de que se tem notícia – a Tsar Bomba. Em 1º de setembro de 1961, o ‘Última Hora’ noticiou a desconfiança do mundo com os testes russos (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 

Bomba china e mais
‘Será com bomba H a segunda explosão da China popular’. Era o que dizia matéria publicada em 17 de de fevereiro de 1965. A página ainda trazia notícias sobre a guerra no ‘Vietname’ (com essa grafia mesmo) e um suposto atentado à Estátua da Liberdade. Tempos de guerra (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 
Na nossa pesquisa, nos deparamos com fatos históricos, como a ida do homem à Lua. Mas também acompanhamos as tragédias que precederam o dia lendário e o começo da corrida espacial – a notícia de que o russo Iuri Gagarin tinha se tornado o primeiro homem a sair da Terra e alcançar o espaço.

Iuri Gagarin, espaço
‘Homem russo no espaço’. Em 12 de abril de 1961, o ‘Última Hora’ noticia que Iuri Gagarin acabava de se tornar o primeiro homem a sair da Terra (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 

Russo morre
Em 25 de abril de 1967, o jornal anuncia que o cosmonauta russo Vladimir Komarov morreu depois que o paraquedas de sua nave, a Soyuz-1, não abriu durante a reentrada na Terra. Era a primeira morte em uma missão espacial (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 

Homem chega à Lua
Em 20 de julho de 1969, uma edição especial. A manchete – ‘O homem está na Lua. A Terra está em festa’ – celebra o passo para a conquista do espaço (foto: Arquivo Público do Estado e São Paulo).

 
As manchetes e o desenho dos jornais acima dão o tom do novo jornalismo que Wainer empregou no ‘Última Hora’. Várias fotos e um novo jeito de escrever – o jornal também fala sobre a história do próprio jornalismo.

Era uma época – como é a nossa atual, aliás – de rara e rápida transformação tecnológica. A medicina acompanhava a velocidade, como mostra as capas do primeiro transplante de coração no mundo (na África do Sul) e no Brasil.

Primeiro transplante de coração no mundo
Na África do Sul, o primeiro transplante de coração do mundo. Notícia de 4 de dezembro de 1967, que, curiosamente, não ganhou muito destaque no jornal (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 

Primeiro transplante de coração no Brasil
Já em 27 de maio de 1968, o destaque foi enorme. Era o primeiro transplante de coração realizado no Brasil (foto: Arquivo Público do Estado de São Paulo).

 
Pelas folhas digitalizadas do jornal ainda é possível encontrar as manchetes de momentos marcantes da política, como as mortes de John Kennedy e Che Guevara

Uma volta ao passado e um passeio pela história. Tudo em breve – e divertida – pesquisa.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line