Cientistas cidadãos

Estima-se que a quantidade de fitoplâncton presente nos ecossistemas marinhos esteja diminuindo. A hipótese mais provável é que isso esteja ocorrendo devido ao aumento da temperatura da água nos oceanos – possível consequência do aquecimento global –, que dificulta a obtenção de nutrientes pelos organismos que formam o fitoplâncton e faz com que eles se reproduzam menos.

A queda da biomassa de fitoplâncton nos oceanos provocaria uma redução em cascata de uma série de outras espécies, continuando a afetar até o já depauperado estoque pesqueiro

Ao que tudo indica, o cenário é grave, pois o fitoplâncton é a base de toda a teia alimentar nos ecossistemas marinhos. Ele é composto de organismos com clorofila invisíveis a olho nu que sintetizam matéria orgânica e são carregados pelas correntes marinhas. A queda da biomassa desses organismos nos oceanos provocaria uma redução em cascata de uma série de outras espécies, continuando a afetar até o já depauperado estoque pesqueiro. Além disso, o fitoplâncton oceânico é o maior responsável pela produção do oxigênio atmosférico, graças à fotossíntese realizada por esses organismos.

Na tentativa de aumentar o volume de dados científicos disponíveis – ainda muito escassos – sobre fitoplâncton no mundo e obter um mapa realista da distribuição desses organismos nos oceanos, um cientista inglês criou uma estratégia no mínimo curiosa. O biólogo Richard Kirby, do Instituto de Pesquisas Marinhas de Plymouth (Inglaterra), desenvolveu um método de análise muito simples e convocou a participação de cidadãos comuns na empreitada.

O sistema se baseia no uso de um ‘equipamento científico de análise’, por assim dizer. Trata-se de um simples disco branco, de 30 cm de diâmetro e 200 g, preso a uma corda ou fita métrica. Qualquer um pode produzir seu equipamento – a partir das simples instruções de montagem disponíveis na página do projeto de Kirby na internet.

Equipamento para medir fitoplâncton
Com apenas 30 cm de diâmetro e cerca de 200 g, o equipamento usado para medir a densidade de fitoplâncton na água pode ser montado por qualquer pessoa. (foto: divulgação)

O equipamento mede a densidade de fitoplâncton na água. Basta posicionar-se de costas para o Sol, entre 10h e 14h, e mergulhar o dispositivo no mar até não conseguir mais vê-lo. Anota-se então a profundidade, com o auxílio da fita métrica, e pronto. Análise concluída.

O princípio de funcionamento do aparato é bastante simples. A profundidade a partir da qual não se consegue mais ver o reflexo da luz solar no disco branco indica o quanto a água está turva. Essa turbidez na superfície dos mares deve-se principalmente à quantidade de fitoplâncton na água. Logo, quanto maior a profundidade em que se pode observar o disco, menos turva é a água e, por associação, menor é a densidade de fitoplâncton. Esse método foi inventado em 1865 pelo padre Pietro Angelo Secchi, então consultor científico do Papa.

Aplicativo para smartphoneAs medidas coletadas são registradas em um aplicativo para smartphones, desenvolvido pela própria equipe de Kirby. Com ele, as informações são enviadas automaticamente para o banco de dados do projeto. Se não houver conexão com a internet no momento em que se está embarcado, sem problemas. O programa grava os dados na memória do telefone e procede com a transmissão assim que se conectar novamente à rede.

O aplicativo também envia dados de localização geográfica (latitude e longitude, detectadas automaticamente pelo GPS do telefone). Informações como temperatura da água, fotos e anotações sobre as condições ambientais na hora da coleta também podem ser anexadas.

Vale conferir outras iniciativas científicas que contam com a ajuda da população para coleta de dados. Essa parece ser uma tendência, pelo menos na Inglaterra.

O tal do plâncton
‘Plâncton’ é o nome genérico que se dá a um conjunto de pequenos organismos presentes na água – que, por seu reduzido tamanho, são carregados pelas correntes marinhas. O plâncton é basicamente dividido em fitoplâncton (organismos com clorofila que sintetizam matéria orgânica) e zooplâncton (organismos consumidores de matéria orgânica).

Caetano Dable
Especial para CH On-line