O cinema, que teria surgido há pouco mais de um século, pode ganhar alguns bons anos de existência. Mais precisamente, 30 mil anos. Isso porque pesquisadores da Universidade de Tolouse, na França, após duas décadas estudando pinturas rupestres – aquelas feitas sobre superfícies rochosas pelos chamados ‘homens das cavernas’ –, descobriram ‘movimentos’ análogos aos da técnica cinematográfica nos desenhos.
Como se sabe, o cinema é uma espécie de ‘ilusão de ótica’, em que imagens são colocadas em sequência e transmitidas numa velocidade de quadros de modo a enganar o olho humano e dar a impressão de movimento. Segundo a equipe liderada pelo arqueólogo Marc Azéma, os homens da Idade da Pedra faziam algo parecido – pintavam diversas imagens de animais em posições diferentes. Importante: as posições muitas vezes não eram aleatórias e passavam a noção de progressão, de movimento.
Em vídeo disponibilizado pela New Scientist (com legenda em inglês), fica mais fácil compreender como a técnica de ‘quadro a quadro’, típica do cinema, teria sido usada pelo homem pré-histórico. Segundo Azéma, o fogo intermitente das tochas ‘revelaria e esconderia‘ os desenhos e transmitiria a noção de movimento. Confira abaixo o vídeo feito pelo cientista.
O arqueólogo usa na animação pinturas rupestres tiradas de algumas das cavidades subterrâneas mais estudadas por quem pesquisa arte pré-histórica, como a gruta francesa Chauvet e o complexo de cavernas – também francês – de Lascaux.
Curiosamente, as pinturas de Chauvet foram tema de documentário recente do celebrado diretor alemão Werner Herzog: A caverna dos sonhos esquecidos. Assista ao trailer.
Azéma sugere, por exemplo, que um bisão de oito patas é resultado da sobreposição da imagem do animal em duas posições diferentes. O mesmo raciocínio se aplicaria às representações relativamente comuns em desenhos rupestres de animais com várias cabeças e membros.
Outra descoberta que o pesquisador acredita ter feito em cavernas francesas e espanholas é a do ancestral do taumatrópio, brinquedo muito popular no século 19 no qual cada face de um disco é pintada com uma figura e, à medida que o objeto gira, uma ‘cena’ acontece. O brinquedo é considerado um dos antecessores das câmeras cinematográficas.
Segundo Azéma, o taumatrópio da pré-história era feito com discos de pedra ou de osso que no giro para trás revelavam, assim como as pinturas na parede, o movimento dos animais. Talvez os irmãos Lumière tenham tido precursores bem mais antigos do que se supunha.
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line