A realidade das ruas de Salvador, Bahia, não se reflete nas universidades. Enquanto na cidade 80% da população é composta por negros, nas salas de aula do ensino superior essa proporção é de apenas 7,4%. A discrepância serviu de inspiração para a estatística Sheila Regina dos Santos Pereira criar um projeto que incentiva jovens negros a ingressar em carreiras científicas. O trabalho ganhou a última edição do prêmio Jovem Cientista na categoria Graduado.
“Eu não me via na universidade e comecei a perguntar os motivos por trás disso”, conta Pereira, que estudou na Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Também percebi que o percentual de alunos negros era ainda menor em cursos considerados de mais prestígio, como medicina e engenharia”, completa a estatística, que apresentou seu trabalho na 61ª reunião anual da SBPC.
Oguntec é o nome do projeto idealizado pela jovem para mudar essa realidade. A iniciativa prevê que alunos de escolas públicas das periferias de Salvador recebam reforço escolar durante os três anos do ensino médio. O ritmo de estudo é puxado: as aulas acontecem depois que os alunos saem da escola, nas tardes de segunda, terça, quarta, sábado e, muitas vezes, domingo.
O estímulo, porém, vai além do currículo das matérias tradicionais. “Fazemos o reforço da autoestima. Nosso objetivo é mostrar a esses jovens que eles são capazes de realizar seus sonhos e que podem sonhar em se tornar médicos ou advogados”, diz Pereira. Os resultados com a primeira turma de 30 alunos revelam o sucesso da iniciativa: todos foram aprovados em vestibulares de faculdades privadas da Bahia e 30% em universidades públicas.
O retorno do investimento nos jovens é repassado imediatamente para a comunidade da qual eles fazem parte por meio de palestras que eles precisam ministrar em escolas locais como contrapartida obrigatória do programa. O tema abordado é sempre relacionado à ciência e à tecnologia.
“Hoje já existem várias escolas que nos procuram para agendar palestras”, orgulha-se Pereira. A jovem pretende agora levar o Oguntec – que é realizado em parceria entre a UFBA e o Instituto Cultural Steve Biko – para todas as escolas públicas de Salvador.
Mais prêmios
Júlia Soares Parreiras (esq.) e Terezinha Cristina da Costa Rocha, ganhadoras do prêmio Jovem Cientista nas categorias Ensino Médio e Ensino Superior.
Na categoria Ensino Médio do prêmio Jovem Cientista de 2008, a vencedora foi Júlia Soares Parreiras, do Cefet de Minas Gerais. A estudante venceu com o trabalho “Educação para a prevenção: uma alternativa para a melhoria da qualidade da água e das condições sanitárias de comunidades carentes”.
Já na categoria Estudante do Ensino Superior, a vencedora foi Terezinha Cristina da Costa Rocha, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Rocha ganhou o prêmio pelo projeto “Dicionário temático da língua brasileira de sinais: a criação de sinais específicos para filosofia”.
As três vencedoras do prêmio Jovem Cientista de 2008, que teve como tema “Educação para reduzir as desigualdades sociais”, apresentaram suas pesquisas na reunião anual da SBPC. Durante o evento também foi lançada a próxima edição do prêmio, cujo tema é “Energia e meio ambiente – soluções para o futuro”.
Mariana Ferraz
Ciência Hoje / RJ
15/07/2009
Confira a cobertura completa da 61ª Reunião Anual da SBPC