Há 400 anos, o astrônomo e filósofo Galileu Galilei (1564-1642) apresentava ao mundo algo inovador para a época: uma versão melhorada da luneta, que permitiu a observação de objetos celestes com uma nitidez nunca antes obtida. Essa e outras contribuições do cientista italiano para a astronomia são relatadas em As descobertas astronômicas de Galileu Galilei.
Escrita pelo especialista em história da ciência Antonio Augusto Passos Videira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a obra faz parte da coleção Ciência fácil para todos, da editora Vieira & Lent. Como o próprio nome sugere, a meta é explicar ciência em linguagem acessível e sem rodeios. E, ao menos em As descobertas astronômicas de Galileu Galilei, a missão é cumprida.
O livro tem como características a simplicidade e a concisão. Para o público mais ávido, a leitura acaba em uma tarde. Videira procura ser didático nas explicações. Não é necessário ter conhecimento prévio sobre o assunto para entender a importância dos estudos de Galileu para a construção da visão que temos hoje do mundo e do universo.
O leitor é preparado, nos dois capítulos iniciais, para receber as informações mais densas das páginas seguintes. Primeiro, a introdução traz uma visão geral sobre o trabalho de Galileu. Em seguida, a obra apresenta a biografia do cientista, que, nas palavras do próprio Videira, “não pode ser interpretado à luz de nossas categorias profissionais ou divisões entre saberes”.
Os outros capítulos do livro são dedicados às famosas descobertas de Galileu e à relação do astrônomo com natureza, ciência e fé. Há ainda uma lista dos livros publicados pelo cientista.
Apaixonado por polêmicas
Segundo Videira, todas as descobertas galileanas podem ser usadas a favor das ideias de Copérnico e contra as de Aristóteles no que diz respeito à astronomia. O primeiro, além de defender que o Sol era o centro do universo (heliocentrismo), acreditava também que a Terra girava ao redor de si mesma. Já o segundo defendia, grosso modo, que o universo seria uma esfera gigantesca, porém finita, com a Terra ao centro (geocentrismo).
Para Galileu, Copérnico era quem explicava melhor o funcionamento do cosmos. O desejo de provar isso cientificamente foi o que norteou grande parte de seus estudos. Uma grande contribuição nesse sentido foi a criação da sua luneta, apresentada ao mundo no dia 25 de agosto de 1609. Chamado perspicillum, o instrumento era capaz de aumentar oito ou nove vezes objetos distantes. Até então, as lunetas usadas por cientistas e curiosos eram mal construídas e não ofereciam imagens nítidas dos corpos celestes.
Como era de se esperar, Galileu não guardou suas conclusões para si. Sua teimosia e persistência lhe renderam a antipatia da Igreja Católica (defensora, à época, do aristotelismo), o que culminaria, em 1632, na sua condenação à prisão domiciliar. Apesar desse episódio, Videira faz questão de reforçar a fé de Galileu na veracidade da Bíblia. Para o astrônomo e filósofo, as escrituras deveriam ser interpretadas a partir do estudo da natureza.
Mas os feitos de Galileu não param por aí: ele descobriu quatro dos 63 satélites de Júpiter, discutiu a localização e a natureza dos cometas, documentou as fases de Vênus e estudou as manchas solares. Com suas descobertas, o cientista contribuiu para a consolidação da astronomia.
No livro, Videira ressalta que o êxito de Galileu não foi fruto de um trabalho isolado: para chegar aos resultados que o catapultaram à condição de ícone da ciência, o astrônomo contou com a ajuda de outras pessoas. Isso, entretanto, não tira o brilhantismo de seu legado.
As descobertas astronômicas de Galileu Galilei
Antonio Augusto Passos Videira
Rio de Janeiro, 2009, Vieira & Lent
112 páginas – R$ 23,00
Tel.: (21) 2262-8314
Raquel Oliveira
Ciência Hoje On-line
27/10/2009