Como você nunca viu

Quem estiver de passagem pela Alemanha e tiver interesse pelo futuro do planeta não pode deixar de visitar o Klimahaus 8º Ost (‘Casa do clima 8º Leste’), na cidade de Bremerhaven, noroeste do país.

“Não somos um museu, não somos um centro interativo de ciências”

O visitante que seguir o senso comum talvez o classifique como um museu dedicado ao meio ambiente, mas o lugar desafia definições fáceis.

“Não somos um museu, não somos um centro interativo de ciências”, nega o cientista político Jens Tanneberg, diretor de ciência e educação da instituição. “Somos um centro de lazer e entretenimento, o primeiro no mundo dedicado à mudança climática, até onde temos notícia.”

O Klimahaus tem exposições que apresentam o clima, a natureza e a população de vários pontos do mundo e levam o visitante a refletir sobre como o futuro do clima pode afetá-los. 

Veja uma galeria de fotos do Klimahaus

 

Volta ao mundo em um meridiano

A proposta da principal exposição do espaço – Reise [‘Jornada’] – é passear pela diversidade climática, humana e natural que é possível encontrar no meridiano 8º leste, no qual se situa a cidade de Bremerhaven.

Vida de inseto
No espaço do Klimahaus que recria a natureza da ilha italiana da Sardenha, o visitante tem a impressão de se tornar um inseto ao passear por um gramado de proporções gigantes (foto: Volker Lannert / DAAD).

O viajante é levado sucessivamente a visitar uma paisagem rural da Suíça, uma pequena cidade da Sardenha, na Itália, uma aldeia no Níger, norte da África, um ponto da floresta equatorial nos Camarões, no mesmo continente, e uma estação de pesquisa na Antártica.

O visitante passeia pela diversidade climática, humana e natural que é possível encontrar no meridiano 8º leste

Cruzando o polo Sul e seguindo pelo meridiano oposto, o viajante passa ainda pelo arquipélago de Samoa Ocidental e pelo Alasca, antes de voltar à Alemanha.

A apresentação de cada uma dessas localidades é feita com uma abordagem museológica original, que inclui atrações interativas, vídeos e instalações.

A proposta é multissensorial: na visita ao vilarejo suíço, o cheiro de pasto e laticínios invade o ambiente. Quando se chega à floresta equatorial, o visitante é tomado pela umidade e pelo calor típico desse ambiente. Na Antártica, é hora de colocar de volta o casaco tirado nas regiões tropicais para se proteger das temperaturas negativas.

Luz das estrelas
Corredor do Klimahaus simula a luz das estrelas no ambiente antártico: na longa noite de inverno, sob o frio glacial, os pontos luminosos no céu são a única fonte de luz para quem está ali (foto: Volker Lannert / DAAD).

Mudança climática, uma realidade

A mudança climática se faz presente em todos os ambientes, como uma realidade que se manifesta de maneira diferente em cada região retratada.

Ela não é o fio condutor da exposição, mas um dado inseparável do cotidiano de cada zona climática, que se mostra nos desafios enfrentados em cada região – o desmatamento e a extinção de espécies na floresta africana, o degelo na Antártica, o aumento do nível do mar nas ilhas inundáveis de Halligen, na Alemanha.

A opção de fugir do didatismo e promover a consciência da mudança climática de forma intuitiva é deliberada. “Não queremos apontar o dedo para o visitante e dizer que ele é culpado pela mudança climática e que deve fazer isso ou aquilo”, explica Jens Tanneberg.

A opção de fugir do didatismo e promover a consciência da mudança climática de forma intuitiva é deliberada

“Queremos oferecer informação a respeito para torná-lo familiar com as diferentes zonas climáticas do planeta”, explica.

De acordo com o cientista político, pesquisas realizadas junto aos visitantes indicam que essa abordagem tem funcionado. “Os resultados mostram que as pessoas saem do Klimahaus mais informadas sobre mudança climática e dispostas a mudar sua atitude”, garante Tanneberg.

Bernardo Esteves (*)
Ciência Hoje On-line
(*) O jornalista viajou para a Alemanha a convite do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD)