Os aspectos que aproximam e opõem ciência e arte já renderam muita discussão, no Brasil e no mundo. A tendência maior para os teóricos, cientistas e artistas tem sido apontar a ligação simbiótica de ambas. E, pensando bem, já era nessa direção que apontava o cientista/artista multiuso Leonardo Da Vinci (1452-1519) na Itália do século 15.
Por isso, o maior mérito de Walter Lewin, físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), é pular essa polarização dos dois campos. Em palestra publicada em vídeo há algumas semanas na página da instituição (boa dica da Cristina Campos), ele conta sobre sua paixão por arte (em especial, as plásticas) e começa a falar do período que mais lhe agrada – o primeiro quarto do século 20.
Sem explicar muito por que exatamente está dissertando sobre aquele período e qual é a relação desse intervalo com a história da ciência, Lewin desanda a mostrar quadros cubistas, impressionistas, expressionistas etc.
- ‘Moscow I’, tela do pintor russo Wassily Kandinsky – um dos pioneiros (palavra importante) do abstracionismo.
Os pintores com quem gasta mais tempo são o espanhol Pablo Picasso (1881-1973), o francês Henri Matisse (1869-1954) e o russo Wassily Kandinsky (1866-1944). “Pelo pioneirismo dos três”, reflete.
Na verdade, a repetição por dezenas de vezes da palavra “pioneirismo” durante sua hora e meia de apresentação é a única pista que o físico dá de como irá associar arte à ciência.
No mais, ele mostra o seu vasto conhecimento sobre aquele período da arte. Situa-o no tempo, explica por que, à época, determinados quadros não foram valorizados (e hoje são), discorre sobre o ineditismo de várias obras. E faz tudo isso com carisma e humor notáveis. Uma aula sobre a vanguarda das artes plásticas do início do século 20.
No fim da palestra ele dá a chave para entender seu raciocínio. “O pioneirismo une a busca artística do início do século 20 à ciência, que sempre tenta a novidade. Nesse período, na arte, não era mais a questão do belo. A beleza não era importante, o importante era fazer o que nunca ninguém tinha feito”.
Mas haveria uma diferença: “Na ciência, pode-se estar certo ou errado. Na arte, não existe certo ou errado”, conclui Lewin, de modo simples e, não por isso, menos verdadeiro.
Assista (em inglês) à palestra do físico Walter Lewin
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line