Dance enquanto é tempo

Como todos sabem, o LHC – maior acelerador de partículas do mundo – voltou a funcionar no último dia 20, após mais de um ano de manutenção. O fato é o pretexto para reciclar aqui um texto antigo escrito por ocasião da inauguração do acelerador.

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O LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, voltou a operar. Os físicos depositam grande esperança nesse brinquedinho que custou alguns bilhões de dólares.

Eles esperam que a máquina permita detectar o bóson de Higgs, que explicaria por que algumas partículas têm massa e daria sobrevida ao chamado Modelo Padrão, que descreve os tijolos básicos que formam a matéria.

Essa detecção seria talvez um dos prêmios Nobel mais certos de todos os tempos (a ser dividido com o próprio Peter Higgs, que está com 80 anos). E é bom que o LHC detecte mesmo o bóson, ou os físicos teóricos terão problemas para substituir o Modelo Padrão.

Muito se falou sobre isso na internet por ocasião da inauguração do LHC – e, em particular, sobre a risível hipótese de que, ao tentar simular o Big Bang, o acelerador poderia gerar um pequeno buraco negro capaz de engolir a Terra.

Naquele momento, também ganhou bastante visibilidade o vídeo com o rap feito para explicar o funcionamento do LHC. Pena que a ocasião não tenha sido aproveitada para resgatar a memória do mais interessante subproduto musical do LHC – o grupo pop feminino Les Horribles Cernettes.

Les Horribles Cernettes

O grupo é composto por um trio de mulheres que cantam sobre quarks, bósons, aceleradores de partículas e outras minúcias da intimidade da matéria, embaladas por quatro instrumentistas que, como elas, estão ligados de alguma forma à física de partículas.

O grupo foi fundado no início dos anos 1990, por uma secretária do CERN (sigla em francês para Organização Europeia para Física Nuclear) – a instituição por trás do LHC. Da sua revolta com a devoção à pesquisa de seu namorado, físico co CERN, surgiu o maior hit das Cernettes: “Collider” (confira a letra).

Outros sucessos vieram na trilha do primeiro hit, entre os quais se destacam “Antiworld” (Antimundo), “Strong interaction” (Interação forte) ou “My sweetheart is a Nobel prize” (Meu amado é um prêmio Nobel).

Estimuladas pelo ambiente de inovação do CERN – a WWW nasceu ali –, as Cernettes alegam ser a primeira banda a ter um site e foram o objeto da primeira foto publicada na web (esta aí embaixo). Em homenagem aos tempos pioneiros, a página da banda mantém o mesmo lay-out original da época.

Les Horribles Cernettes

Em 2007, com a grande visibilidade que o LHC vinha ganhando com sua iminente inauguração, a banda foi reativada e novas músicas foram feitas. Vieram, por exemplo, “Big Bang” e “Every proton of you” (Cada um dos seus prótons).

Mas a melhor faixa da nova fornada é “Mr. Higgs”:

Será que Mr. Higgs vai dar as caras pra dançar um rock’n’roll com elas? Enquanto ele não aparece – e o mundo não acaba –, confira os maiores sucessos das Cernettes no canal da banda no YouTube.

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line