De vento em popa

O Brasil tem potencial, mas está defasado em termos de produção de energia eólica. A avaliação é do engenheiro mecânico Jorge Villar Alé, coordenador do Centro de Excelência em Energia Eólica (CE-Eólica), inaugurado em outubro passado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). A iniciativa foi criada com o objetivo de melhorar a posição brasileira no cenário internacional em relação ao uso dessa fonte renovável de energia.

Turbina desenvolvida no Centro de Excelência de Energia Eólica, da PUCRS. O equipamento apresenta vantagens sobre os similares utilizados atualmente, por captar ventos que sopram de todas as direções (foto: CE-Eólica / PUCRS).

Alé desenvolveu recentemente no CE-Eólica uma turbina que aproveita ventos que sopram de todas as direções; em geral as turbinas utilizam apenas ventos uniderecionais, o que reduz sua capacidade produtiva. Além disso, o gerador elétrico da turbina criada pelo engenheiro fica próximo do solo, facilitando sua manutenção. O projeto contou com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

“A energia do vento é uma excelente alternativa para substituir combustíveis fósseis, e iniciativas como o CE-Eólica são de grande importância para o desenvolvimento sustentável do país”, diz Alé, do Departamento de Engenharia Mecânica e Mecatrônica da PUCRS. O centro coordenado por ele faz pesquisas inovadoras sobre recursos eólicos, além de capacitar profissionais para trabalhar na área. Dispõe de laboratórios de última geração, onde são realizados estudos e testes em turbinas e componentes, e oferece orientação à comunidade sobre o uso de energias renováveis.

A criação de um centro de excelência nessa área no Rio Grande do Sul não é aleatória: o estado abriga o maior parque eólico da América Latina, situado no município de Osório, com capacidade instalada de 150 MW – o suficiente para abastecer uma cidade de 650 mil habitantes durante um ano.

Um longo caminho pela frente
O crescimento do interesse pela energia eólica é diretamente proporcional ao temor da crise energética e do aquecimento global. De acordo com dados do Conselho Internacional de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês), até 2006 a potência mundial instalada era de 75 mil MW (237 MW no Brasil). O governo brasileiro tem se esforçado para aumentar a produção (que hoje representa menos de 1% da matriz energética do país), mas ainda não obteve avanços expressivos. O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica estabelecia que, até o fim de 2007, o Brasil deveria produzir 1.100 MW – objetivo que não foi alcançado. Novas metas foram estabelecidas, e o governo pretende gerar 1.400 MW até o final de 2008, por meio da criação de 54 novos empreendimentos.

As vantagens da energia gerada pela força do vento são principalmente de caráter ambiental, uma vez que não produz lixo (como no caso da energia nuclear) nem polui o meio ambiente. Mas há também um apelo econômico, pois existe a possibilidade de aproveitamento das áreas destinadas à construção dos parques eólicos para outros fins. “Cerca de 90% do território pode ser utilizado para agricultura e pecuária”, explica Alé. Outro ponto favorável é que um parque eólico já construído pode ser ampliado, sem dificuldades, uma vez que tem a característica de ser modular. Os pontos negativos são impacto visual, ruídos gerados pelas máquinas e colisões fatais para aves migratórias. Além disso, o alto preço do maquinário, que é importado, torna a construção de um parque eólico um empreendimento caro.

O sistema de geração de energia eólica é simples. O vento é barrado por pás, que podem ser duas, três ou múltiplas, e transfere energia cinética para o rotor (a parte giratória do equipamento). Este, por sua vez, transfere energia rotacional para o eixo, estrutura que está acoplada, na outra extremidade, a um gerador elétrico, capaz de produzir tensão elétrica a partir de indução eletromagnética. A tensão é responsável por conduzir corrente elétrica de um ponto a outro do sistema, sendo, portanto, essencial na distribuição da eletricidade. Há ainda um conjunto de três ímãs, necessários para gerar tensão por meio de indução eletromagnética.

Além da energia eólica, a biomassa, a energia solar e a das marés são outras opções de fontes limpas para substituir os combustíveis fósseis. Mas, para cada região, é preciso analisar qual a mais adequada, de acordo com as potencialidades. A definição de áreas propícias para instalação de parques eólicos requer avaliações detalhadas, com o auxílio de aparelhos como anemógrafos computadorizados e sensores especiais para energia eólica.

Panorama mundial
Algumas regiões da Europa têm sua paisagem marcada por turbinas de energia eólica. Amsterdã, na Holanda, por exemplo, não seria a mesma sem seus moinhos de vento espalhados pelos campos. Os cata-ventos são marcantes também na Dinamarca. Além desses países, Alemanha, Espanha e Estados Unidos se destacam na produção de energia eólica. Até 2020, cerca de 16% da matriz energética mundial – o que representa 180 mil MW – serão supridos pelo vento, segundo dados divulgados na abertura da Conferência Européia de Energia Eólica, realizada em Milão, Itália, no início de 2007. Atualmente só 3%, ou 50 mil MW, vêm dessa fonte.

O aumento da geração de energia proveniente dos ventos faz parte de um esforço internacional conjunto para reduzir gases poluentes. Segundo o Greenpeace, mais de 50 milhões de toneladas de gás carbônico deixam de ser lançados anualmente na atmosfera graças às turbinas instaladas na Europa. O InterAcademy Council, que reúne as principais academias de ciência de vários países, recomenda que os governos invistam US$ 18 bilhões por ano até 2012 em energias limpas. A conclusão está em seu mais recente relatório, ‘Iluminando o Caminho’, de outubro de 2007. 

Ellen Nemitz
Especial para a CH On-line / PR
10/12/2007