Discussão sem fim


O pesquisador suíço Klaus Ammann durante entrevista coletiva na MOP3 (foto: Célio Yano).

Na entrevista coletiva que concedeu durante a 3ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP3), o pesquisador suíço Klaus Ammann, da Universidade de Berna, pôs mais lenha na fogueira da já acirrada controvérsia sobre segurança em biotecnologia.

 

O cientista apresentou resultados de trabalhos que comprovariam a possibilidade de coexistência, para determinadas culturas, de organismos geneticamente modificados (OGMs) e plantios tradicionais. Segundo ele, é perfeitamente possível cultivar batatas transgênicas e convencionais sem necessidade de distância mínima entre um tipo de cultivo e outro. No caso mais extremo, que é o do centeio, para não haver fluxo gênico basta o afastamento de um quilômetro.

 

Ammann, que é diretor do Jardim Botânico da Suíça, disse que já pertenceu à organização não-governamental Greenpeace, que luta contra o cultivo de OGMs, mas que se distanciou da entidade ao perceber que os dados utilizados pela organização não se baseavam em critérios técnicos. “Eles informam que há 138 casos comprovados de contaminação de plantações por OGMs”, disse o cientista. “Considerando que existem centenas de milhões de eventos de modificações genéticas e mais de um bilhão de acres cultivados com transgênicos, esse número é ridículo”, enfatizou. “Além disso, nenhum dos casos apresentados causou danos à biodiversidade.”

 

Outras críticas se dirigiram a definições. Para Ammann, a palavra ‘contaminação’ não pode ser utilizada para definir fluxo gênico entre plantações de OGMs e convencionais, uma vez que nos produtos transgênicos não há pesticida ou outro ingrediente que cause qualquer tipo de dano ao meio ambiente. O pesquisador criticou também o alcance do termo transgênico. Segundo ele, a matéria-prima de diversos alimentos sofre processo de radiação em campo aberto por raios gama para melhoramento genético e não é rotulada de transgênica. “Isso é muito mais lesivo do que a engenharia genética, que é bem mais direcional”, disse. “Mas ninguém precisa saber disso, não é?”, ironizou.

 

Quanto à identificação de carregamentos de commodities

transgênicas em movimentos transfronteiriços, Ammann afirmou que é impossível para alguns países segregar OGMs de produtos convencionais e identificar todas as cargas. Para ele, o rótulo ‘contém OGMs’ criaria confusão e demandaria análises desnecessárias, aumentando o custo final do produto.

 

Ammann disse que entende o ponto de vista de pessoas que consomem apenas alimentos livres de transgênicos. Comparou a opção com a de judeus, que não se alimentam de determinados pratos por motivos religiosos. “Nesse caso, são eles que arcam com a segregação dos alimentos”, afirmou. “Por que impor para o mundo inteiro os custos da preservação de identidade de não-transgênicos?”

 

 

 

Célio Yano

 

Especial para a CH On-line / PR
15/03/2006