Não é exatamente uma novidade. Rezam as más línguas que a ditadura militar brasileira foi arquitetada pelos Estados Unidos. Para alguns, é um fato histórico inquestionável. Para outros, no entanto, isso é mera teoria da conspiração.
O tema é sensível. Mas, de acordo com documentos históricos recém-revelados, não resta dúvida: o golpe militar de 1964 foi, de fato, uma tramoia dos ianques.
Essa história sempre foi mal contada. Agora, um instigante documentário – O dia que durou 21 anos – apresenta fatos e dados de difícil refutação. São documentos oficiais e gravações em áudio que mostram conversas de embaixadores e políticos norte-americanos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. Esses dados indicam que os norte-americanos tramaram e executaram, meticulosamente, cada passo que culminaria, em abril de 1964, na deposição do presidente João Goulart e na instauração de um dos períodos mais sombrios de nossa história política.
E é claro que, para o sucesso do plano, foi fundamental a cumplicidade de alguns conhecidos barões de imprensa. Em tempo: o regime militar alavancou a ascensão de um império midiático ainda hoje influente no país – assunto que, é claro, não poderia ficar de fora do documentário.
Vale a pena assistir. Dirigido por Camilo Tavares, o documentário foi lançado em março de 2013. E a dica vem em boa hora. Pois em 2014 memoramos – ou lamentamos – os 50 anos do início da ditadura militar no Brasil.
Veja abaixo a primeira parte do documentário O dia que durou 21 anos
Em narrativa bem estruturada, o diretor apresenta documentos e gravações outrora secretos que provam a intervenção estadunidense em nosso país. Historiadores brasileiros e norte-americanos são entrevistados, além de militares da velha guarda – que, em discursos ora cínicos, ora realistas, expõem as contradições do regime que, em nome de uma suposta democracia, impôs uma ditadura.
Figura-chave é o embaixador norte-americano Lincoln Gordon. A mando dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson, ele dedicava-se com afinco ao planejamento de estratégias de intervenção.
Ciência e subversão
A ciência brasileira foi particularmente afetada pelo regime ditatorial – que durou de 1964 a 1985. Quem nos dá um relato vivaz a esse respeito é o patologista Luiz Hildebrando Pereira da Silva, atualmente diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia. Ele publicou, em 2012, o livro Crônicas subversivas de um cientista (resenhado na CH 294, disponível para assinantes em nosso acervo digital).
Hildebrando relata os percalços de sua carreira científica – e da de seus colegas – durante as décadas em que a academia estava subjugada aos caprichos dos militares. E dá exemplos contundentes de que, no Brasil, houve uma verdadeira diáspora de cientistas, que, sob acusações descabidas de subversão, exilaram-se ou rumaram em definitivo para outras terras.
Foi assim que, segundo Hildebrando, o país atrasou em pelo menos duas décadas seu progresso científico e tecnológico.
Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line