Diversidade lingüística

Nesta segunda-feira, 21, enquanto delegados de dezenas de países discutiam a preservação de espécies da fauna e flora do globo, o governo canadense apresentou, em evento paralelo às discussões oficiais da COP8, ações políticas realizadas por seu Ministério do Patrimônio para preservar outro tipo de diversidade: a cultural. 

Elizabeth Casuga, do Ministério do Patrimônio, aponta no telão áreas ocupadas por comunidades aborígines do Canadá (foto: Célio Yano).

Elizabeth Casuga, do governo canadense, acredita que o futuro do Canadá depende da preservação das línguas aborígines. Segundo ela, os povos nativos têm direito de participar não só da cultura do país, mas também das discussões políticas, inclusive as que dizem respeito à preservação da biodiversidade.

 

O grande problema é que, por causa da barreira lingüística, há pouco contato entre as gerações passadas e a população aborígine jovem. Como as famílias têm migrado para as áreas urbanas, a maior parte das comunidades atuais fala apenas o inglês e o francês, idiomas oficiais do Canadá. “De que forma os conhecimentos tradicionais, passados de geração para geração, poderão se manter vivos, se não houver contato entre os idosos e seus jovens descendentes?”, indagou Casuga.

 

O Ministério do Patrimônio canadense é responsável por desenvolver políticas e programas que promovam a cultura nacional, a participação da população na vida cívica do país e o reforço das relações entre os canadenses.

 

Historicamente, o Canadá abrigou um número inestimável de comunidades tradicionais, mas muitos povos se extinguiram devido aos processos de colonização e urbanização do país. A constituição reconhece três grandes grupos de aborígines: first nation(nativos americanos), inuit(formado pelos esquimós) e métis

.

 

Estima-se hoje que o Canadá tenha um milhão de aborígines: aproximadamente 750 mil first nations, 150 mil inuitse 100 mil métis

. Por meio do censo realizado em 1996, o Ministério do Patrimônio apurou que cerca de um terço dessa população tem menos de 14 anos e que aproximadamente 50% vivem em áreas urbanas.

 

O mesmo censo revelou que existem hoje no país 50 idiomas tradicionais. Destes, apenas três (cree, ojibway e inuktitut) são considerados viáveis, uma vez que são falados por mais de 60% dos membros das comunidades em todas as faixas etárias. Dos outros 47 idiomas, 20 estão ameaçados de extinção e 27 estão em estado crítico, com apenas alguns poucos falantes idosos.

 

Diante desse quadro, durante a primeira assembléia de nativos americanos, realizada em 2000, foi decretado estado de emergência para as línguas first nation

. A partir daí articulou-se uma força-tarefa com o objetivo de resgatar as formas de linguagem que caminham para a extinção.

 

Entre as ações planejadas, estão programas de treinamento com imersão em comunidades; inserção de línguas first nation, inuite métis

nas escolas (inclusive em cursos de graduação), com currículos controlados por líderes comunitários; produção de material didático, técnico e científico nos idiomas tradicionais; campanhas dirigidas aos jovens com vistas à preservação das línguas tradicionais; capacitação de aborígines idosos para a prática do ensino de suas línguas às novas gerações.

 

O Canadá foi o primeiro país a assinar a Convenção de Proteção e Promoção da Diversidade de Expressões Culturais, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em novembro de 2005, e tem procurado incentivar outros países a acatar suas diretrizes.

 

Entre os inúmeros itens da agenda oficial da COP8, está previsto um debate sobre proteção a conhecimentos tradicionais. Reunidos em ocas erguidas do lado de fora do centro de convenções Expo Trade, onde se dão as negociações oficiais, nativos de diferentes partes do mundo se reúnem para discutir meios de pressão capazes de fazer valerem seus direitos e interesses.

 

 

 

Célio Yano

 

Especial para a CH On-line / PR
22/03/2006