Um dos mais reconhecidos dramaturgos ingleses do século 20 e um homem engajado na crítica política e na luta pelos direitos humanos. Este é Harold Pinter, ganhador do Nobel de Literatura de 2005. Em sua obra, ele aborda temas como a solidão e a incapacidade de comunicação humana, o caráter ilusório da memória e ainda faz duras críticas políticas às posições de seu país em relação as mais recentes crises mundiais.
Filho de um alfaiate judeu, Pinter nasceu em 1930 na região de Londres, na Inglaterra. Começou sua carreira como ator e integrou a Real Academia de Arte Dramática, onde ingressou em 1948. Em 1950 escreveu seus primeiros poemas e, em 1957, teve sua primeira peça The Room [O Quarto] – montada, em Londres. No mesmo ano estreou The Birthday Party [A festa de aniversário], um de seus maiores sucessos – apesar da forte rejeição inicial. Em 1959 publicou outra de suas peças mais importantes: The Caretaker [O inoportuno], que consolidou seu nome entre os grandes dramaturgos da Inglaterra.
As peças de Pinter são repletas de reflexões sobre a solidão e as dificuldades de comunicação entre os indivíduos. O dramaturgo aproxima-se do teatro do absurdo ao utilizar personagens enigmáticos, que não expressam em palavras o que querem dizer. Seus enredos simples condensam a dramaticidade na luta de poder presente na interlocução dos personagens – não só nas suas falas, mas em seus expressivos silêncios. A obra do laureado originou até uma nova palavra na língua inglesa: pinteresque , que designa situações cheias de silêncios carregados e pensamentos expressos pela metade.
Descritas como “teatro da insegurança” pela crítica, algumas de suas peças se caracterizam por um clima de ameaça e obsessão. Segundo comunicado da Academia Sueca de Letras, responsável pela escolha do Nobel, Pinter “revela o abismo sob as questões cotidianas e força a entrada nos quartos fechados da opressão”. Outro de seus temas prediletos é a volatilidade da memória e do passado, retratados em diversas de suas obras como enganosos e imprecisos.
Outra faceta importante do autor é seu engajamento político cada vez maior. Defensor do pacifismo e dos direitos humanos, Pinter publicou o livro War [Guerra] em 2003, no qual se posiciona abertamente contra a invasão do Iraque, faz críticas severas à posição do seu governo nesse episódio e chega a qualificar o primeiro ministro Tony Blair como um “criminoso de guerra” por compactuar com os Estados Unidos – uma nação, segundo ele, “governada por delinqüentes”.
Em 1991, o autor já havia lançado a peça The new world order [A nova ordem mundial], uma sátira à guerra do Golfo, e feito parte do comitê de defesa de Slobodan Milosevic em 1998, após a intervenção militar da Otan em Kosovo. Embora Pinter tenha anunciado no início de 2005 que não escreveria mais peças de teatro, seu engajamento deve continuar firme em discursos e poemas de teor político.
Em mais de 50 anos de teatro, o autor já recebeu distinções importantes, como o Prêmio Shakespeare ou o Prêmio Europeu de Literatura. Trabalhando como roteirista de cinema, ganhou prêmios no Festival de Berlim e de Cannes, entre outros, além de ter sido indicado ao Oscar pelos filmes Betrayal [Traição] e The French Lieutenant’s Woman [A mulher do tenente francês].
A controversa premiação de 2004, que consagrou a escritora austríaca Elfriede Jelinek, gerou um princípio de incêndio na Academia Sueca quando, há poucas semanas, com a renúncia de um de seus membros – Knut Ahnlund – e o bate-boca público entre ele e o presidente da instituição, Horace Engdahl. Por isso, muitos esperavam uma decisão mais ortodoxa em 2005, o que acabou não acontecendo: apesar de reconhecido, Pinter não aparecia entre os favoritos, talvez por ser um nome ligado ao teatro – o último dramaturgo premiado havia sido o italiano Dario Fo, em 1997.