As queimadas são uma fonte considerável de nitrogênio para a atmosfera, na forma de compostos como o óxido nitroso (N 2 O), que contribuem muito mais para o efeito-estufa que o gás carbônico. Eles aceleram as mudanças climáticas, provocam chuva ácida e, em excesso, prejudicam a produtividade de ecossistemas naturais e plantios.
O Brasil ainda não enfrenta problemas diretamente decorrentes do aumento da concentração desses compostos de nitrogênio na atmosfera, mas o processo contínuo de degradação da Amazônia, principalmente por queimadas e desmatamento, tem deixado os pesquisadores em estado de alerta.
O problema foi discutido na palestra sobre ciclo do nitrogênio na Amazônia feita pelo físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), durante a 61ª reunião anual da SBPC. O pesquisador é o responsável por um projeto de monitoramento da concentração dos compostos de nitrogênio na atmosfera.
Artaxo lembrou que a floresta libera nitrogênio naturalmente como resultado da decomposição da matéria orgânica por bactérias no solo. Durante as queimadas, no entanto, o volume liberado é expressivamente maior. O pesquisador apresentou dados de estudo realizado em Rondônia que mostram que a deposição de nitrogênio como consequência da queima de biomassa foi de cerca de 5,5 kg por hectare ao ano. Na floresta conservada, o valor variou entre 2,8 e 3,1 kg por hectare/ano.
“Já vemos alterações profundas na fixação de nitrogênio em locais da Amazônia, em áreas do cerrado e em locais de produção agrícola em São Paulo”, diz Artaxo. Segundo ele, além das queimadas e das mudanças de uso do solo, o uso de fertilizantes nitrogenados a partir da década de 1960 também contribuiu para o problema. No estado de São Paulo, com extensas áreas ocupadas pela agropecuária, a deposição de nitrogênio é a mesma da encontrada em Rondônia – entre 5,5 e 5,6 kg por hectare/ano.
Triste liderança
Segundo números apresentados por Artaxo, a perda de florestas tropicais no Brasil equivale a 48% do total desmatado em todo o planeta, o que coloca o país no topo da lista de emissores de gases do efeito-estuda por desmatamento. “As emissões brasileiras são quatro vezes maiores que as do segundo país na lista, a Indonésia”, diz Artaxo.
Para o físico, o desmatamento por queimadas é o ponto crítico da emissão de nitrogênio no Brasil. “O que motiva o processo é a política inadequada de ocupação da Amazônia. É preciso mais ordenamento e controle na região”, defende.
Em 2008, foram desmatados na Amazônia cerca de 15 mil km 2 – pouco mais que o valor registrado em anos anteriores, mas menos do que nos últimos 10 anos. “Agora é preciso esperar para ver se a tendência é mesmo a de crescimento do desmatamento”, afirma o pesquisador.
Mariana Ferraz
Ciência Hoje / RJ
16/07/2009