Falsos dados

Quando revistas que não são de divulgação científica ou programas detelevisão com tendência sensacionalista alardeiam – afobadamente –pesquisas que supostamente podem curar determinada doença, nósreclamamos daqui.

É de muita irresponsabilidade dar esperança para pessoas que passam,muitas vezes, a vida inteira em busca de um tratamento. Por isso, antesde falar sobre “curar o câncer”, “voltar a andar” ou ” ter vidaeterna”, preferimos ouvir os especialistas e relativizar as promessas.

Por isso, nos incomodou o artigo que saiu na PLoS Biology e que foi discutido em reportagem da Nature News nofinal de março, constatando que os testes de medicamentos feitos com animais superestimam em30% a expectativa de sucesso de um determinado tratamento em humanos.

Isso porque parte dos resultados negativos desses testes – aqueles que nãoderam certo – simplesmente não é divulgada pelos cientistas. Por conta disso, ostrabalhos são enviados para publicação nos periódicos científicos – e relatados por jornalistas e divulgadores – de modoenviesado, sem que se tenha acesso à totalidade dos dados colhidos.

O blogue que nos apontou a notícia, o Bio ICB UFRJ, explica como foi feito o estudo da equipe do neurologista Malcolm Macleod, da Universidade de Edimburgo, na Escócia:

A análise foi conduzida por revisões acerca de intervenções testadasem modelos animais de acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico eestima-se que o número de experimentos não publicados chegue a 16% dototal realizado. Os autores descrevem ainda uma maioria de trabalhosreportando alta eficácia dos testes realizados, em detrimento depublicações sobre tratamentos com efeitos mais discretos.

O argumento por trás dessa lógica é que a divulgação dos resultados positivos (e a omissão dosnegativos) ajudam a emplacar o artigo em algum periódico respeitado. Eisso, claro, permite angariar capital para novas pesquisas.

A contrapartida é cara. Não mostrar todos os dados pode significarencher de frustração quem, no fundo, precisa de esperanças reais. 


Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line