Feynman e a vida

Que Richard Feynman entendia do riscado, isso já é história contada. Físico considerado por muitos o segundo na linha evolutiva iniciada por Einstein, o Nobel na área em 1965 deixou para a humanidade, entre tantas contribuições, o legado da nanotecnologia. Foi um dos primeiros – senão o primeiro – a falar do computador quântico.

O físico tinha também visão crítica sobre as formas de se aprender (e ensinar) ciência. Em trecho do livro O Sr. está brincando, Sr. Feynman, usou inclusive uma passagem pelo Brasil na década de 1950 para questionar a visão de ensino, ainda muito presente por estas bandas, que privilegia a memória e não o conhecimento.

Feynman foi um dos primeiros – senão o primeiro – a falar do computador quântico

Vai bem, portanto, este resgate na internet que, de tempos em tempos, ocorre com a obra e as ideias de Feynman. Pelas muitas entrevistas e palestras que deu ao longo da vida, o físico se revelou um exímio orador – não apenas por falar com clareza e de modo cativante, mas por relacionar de forma tão generosa e otimista a ciência com a vida cotidiana.

A ‘última aparição’ do cientista na rede foi no final do ano passado, com a Feynman Series, uma série de três vídeos produzida pelo mesmo entusiasta que compilou a Sagan Series (sobre o astrônomo Carl Sagan): o fã de ciência Reid Gower.

Gower teve a intuição de que as entrevistas gravadas de Feynman tinham uma narrativa que casaria com imagens e música. Numa edição até simples, com imagens bonitas e uma melodia agradável de fundo, a voz do físico pula à frente e os assuntos ganham mais vida. Artifícios, é bom lembrar, já usados na série dedicada a Sagan.

Nos vídeos, o físico fala da ‘beleza’, da ‘honra’ e da ‘curiosidade’

Não espere que Feynman disserte, no entanto, sobre física de fronteira ou ofereça detalhes sobre o funcionamento do mundo nanométrico. Nos três episódios, o físico fala da ‘beleza’, da ‘honra’ e da ‘curiosidade’. Parece sempre estar respondendo questões, de modo espontâneo, sem refletir muito sobre os assuntos.

E Feynman discorre sobre a vida como poucos:

    “Acho que é muito mais interessante viver sem saber do que ter respostas que podem estar erradas.”“Quando você duvida e pergunta, fica difícil acreditar nas coisas.”“Não preciso de honras. Acho o Nobel uma besteira. Eu já sei que físicos usam o meu trabalho. Não preciso de mais nada.”“Ninguém nunca me pergunta numa entrevista sobre um fenômeno simples da natureza. Sempre querem saber o grande resultado final. E isso é complicado, já que estou no final de 400 anos de um método muito eficiente de descobrir as coisas sobre o mundo.”

Assim como já havia sido feito com Sagan, a turma do Bule Voador – blogue do qual Eli Vieira, biólogo que já apareceu em entrevista do Alô, Professor, é um dos criadores – traduziu para o português os três vídeos feitos com Feynman.

Ciente da importância de divulgar a iniciativa de Gower e do Bule Voador, o Bússola passa para frente, logo abaixo, esses vídeos. É para escolher um aforismo e levar consigo – são muitos.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line