Físico brasileiro ganha prêmio no México

João dos Anjos
O físico brasileiro João dos Anjos, ganhador em 2011 da Medalha Acadêmica da Divisão de Partículas e Campos da Sociedade Mexicana de Física.

O físico João dos Anjos, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), é o primeiro sul-americano a receber a Medalha Acadêmica da Divisão de Partículas e Campos da Sociedade Mexicana de Física (SMF). O prêmio foi concedido este ano ao pesquisador por seu apoio a grupos mexicanos que trabalham na área de física experimental de altas energias.

João dos Anjos é responsável pela criação, junto com o físico mexicano Gerardo Herrera, de uma colaboração latino-americana para aumentar a contribuição e o impacto dos pesquisadores desses países em experimentos do Fermilab, laborátório especializado em física de partículas de alta energia localizado nos Estados Unidos. “Receber a medalha foi uma grata surpresa”, comenta Anjos. “Quando se estabelece uma colaboração, não se pensa nessas coisas.”

A iniciativa surgiu em 1994, quando os dois físicos se conheceram no laboratório norte-americano, e atingiu seu auge em 2006. “Os resultados foram positivos não só em relação ao número de artigos publicados, mas também em formação de estudantes”, destaca Anjos. De 1995 a 2007, o grupo coordenado por ele no CBPF recebeu uma dezena de estudantes e pós-doutorandos do México e de outros países da América Latina.

“Os resultados foram positivos não só em relação ao número de artigos publicados, mas também em formação de estudantes”

Depois disso, Anjos e Herrera passaram a trabalhar em outras áreas de pesquisa. Mas uma nova geração de físicos, formada por eles, está dando continuidade à colaboração. “Estou iniciando agora um projeto de colaboração com pesquisadores latino-americanos na área de física de neutrinos”, conta Anjos. A ideia é construir um laboratório subterrâneo de neutrinos no túnel Água Negra, que será escavado debaixo dos Andes.

O pesquisador ressalta a importância de estabelecer parcerias com nossos vizinhos latino-americanos. “As pessoas têm a tendência de colaborar só com países mais avançados e muitas vezes esquecem do potencial de desenvolvimento do próprio Brasil e dos outros países da América Latina”, diz. “No estágio atual de avanço do nosso país, temos que pensar em realizar os projetos aqui mesmo.”

Homenagem a grandes físicos

A Medalha Acadêmica da SMF é dada todos os anos a pesquisadores com importantes contribuições na área de altas energias ou que tiveram impacto no desenvolvimento desse campo da física no México. Entre os premiados estão os físicos norte-americanos Leon Lederman (1999) e James Cronin (2000), também ganhadores do Nobel de Física.

João dos Anjos integrou a primeira leva de brasileiros a ir para o exterior trabalhar em um grande acelerador de partículas

João dos Anjos é graduado em física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1968 e concluiu o doutorado em física teórica em 1977 na Universidade de Paris VII. Fez parte do grupo brasileiro que em 1984 iniciou colaboração com o Fermilab em física experimental de altas energias, integrando assim a primeira leva de brasileiros a ir para o exterior trabalhar em um grande acelerador de partículas.

Atualmente dedica-se ao estudo dos raios cósmicos de altíssima energia utilizando dados do Observatório Pierre Auger, localizado na Argentina, e a pesquisas na área de física de neutrinos. É coordenador do Projeto Neutrinos Angra, para a construção de um detector de antineutrinos para monitorar a composição do combustível e a potência térmica de reatores nucleares, e do grupo brasileiro que participa na França do experimento Double Chooz, voltado ao estudo de oscilações de neutrinos.

Na área de divulgação científica, coordena o projeto Desafios da física, que produz material temático direcionado a alunos e professores de física do ensino médio.

A medalha será entregue a João dos Anjos no dia 20 de maio durante a Reunião Anual da Divisão de Partículas e Campos da SMF, que será realizada na Universidade Nacional Autônoma do México, na cidade do México.

Thaís Fernandes

Ciência Hoje On-line