O aqüífero Guarani se estende por 1.200.000 m 2 sob o território de Argentina, Uruguai, Paraguai e oito estados brasileiros: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Clique no mapa para ampliar. Fonte: Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani (www.sg-guarani.org).
O aqüífero Guarani – o maior reservatório de águas subterrâneas do Brasil e um dos maiores do mundo – enfrenta ameaças preocupantes. Além do risco de superexploração em alguns pontos, da contaminação por poluentes industriais e da falta de estratégias para sua gestão sustentável, ele enfrenta um problema estrutural: a falta de conhecimento sobre esse imenso reservatório, que se estende por uma área de aproximadamente 1.200.000 metros quadrados, no subsolo de oito estados brasileiros.
Esse diagnóstico foi traçado por especialistas reunidos para discutir problemas ligados ao aqüífero durante a reunião anual da SBPC. Coordenado pelo hidrogeólogo Ricardo Hirata, da Universidade de São Paulo (USP), o grupo de trabalho apresentou suas conclusões ao público na quarta-feira, destacando recomendações que, caso sejam seguidas, devem contribuir para o manejo sustentável das águas do Guarani.
De acordo com Hirata, a contaminação atual do aqüífero não deve suscitar alarmismo, mas atenção. “Já temos alguns casos de contaminação, e temos que ter cuidado no manejo do uso do solo para que novos casos não ocorram”. Segundo ele, a melhor forma de se proteger as águas subterrâneas é não poluí-las. “A remediação de um aqüífero é muito difícil. É como tentar tirar espuma de sabão de uma esponja quando se lava a louça: você continua apertando e sempre sobra um pouco de sabão”, compara. “Da mesma forma, o aqüífero tem bilhões e bilhões de poros, e o contaminante fica lá dentro. E olha que a esponja você consegue apertar! No caso do aqüífero você tem formas químicas de descontaminação, mas são processos muito caros e demorados.”
Falta de conhecimento
Mais que a contaminação, o desconhecimento da estrutura e do funcionamento hidráulico do aqüífero constituem obstáculos à sua conservação. Pouco se sabe, por exemplo, sobre as zonas críticas de degradação da qualidade da água; também não há muita informação sobre as zonas de descarga, nas quais há saída de água para a superfície, sobre o fluxo de águas e sobre a potencialidade do Guarani.
“Até que conhecemos bastante sobre esse aqüífero, mas é muito pouco frente ao tamanho dele”, reconhece Ricardo Hirata. Ele atribui o problema à falta de investimentos na pesquisa sobre águas subterrâneas. ”A complexidade geológica do aqüífero exige investimento para conhecê-lo. É possível contar nos dedos os programas sistemáticos e continuados em relação a águas subterrâneas.”
Diante desse quadro, a primeira recomendação do grupo de trabalho reunido em Florianópolis foi a criação de uma linha permanente de fomento à pesquisa voltada para a solução dos problemas ligados ao aqüífero Guarani, que permita capacitar novos profissionais na área de hidrogeologia – uma carência crônica e histórica no país.
Outra ação recomendada pelos especialistas foi a inclusão de discussões sobre o Guarani na pauta de negociação diplomática entre os quatro países sob cujo território se encontra o aqüífero – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Os pesquisadores acreditam que eles deveriam debater protocolos e regras comuns para a gestão sustentável das águas do aqüífero. “O Guarani tem grande potencialidade para a integração regional e para promover novas oportunidades nesses países”, aponta Hirata.
O grupo de trabalho recomendou ainda que a SBPC inclua em seus veículos de comunicação espaços para informação qualificada sobre águas subterrâneas. “Muitos não sabem o que é a água subterrânea e desconhecem a sua importância”, conta Hirata. “Dois bilhões de pessoas dependem dela no mundo”.
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
20/07/2006