Grandes poderes trazem grandes improbabilidades

Escalar paredes. Voar. Dar a volta ao mundo em segundos. Fazer surgir qualquer coisa que sua imaginação conceber, graças a um anel mágico. Você já sonhou em ter algum desses superpoderes de heróis de quadrinhos? Será que eles poderiam existir no mundo real, submetidos a todas as leis da ciência? Essa é a pergunta por trás do livro A ciência dos super-heróis , dos escritores Lois Gresh e Robert Weinberg. A partir de uma análise minuciosa de algumas das principais revistas em quadrinhos do mundo, os autores tentam descobrir se existe a possibilidade de um dia toparmos com o Incrível Hulk na esquina ou com um dos fabulosos X-Men na fila da padaria.
 
As revistas de heróis surgem na década de 1930, derivadas de publicações baratas de ficção científica, as pulp magazines . Muitos de seus primeiros roteiristas eram também autores desses títulos e, por isso, é nessa fase que as histórias mais se preocupam em criar explicações científicas para os poderes dos personagens – ou pelo menos que parecessem cientificamente embasadas (“cascatas científicas”, nas palavras do autor).
 
Gresh, escritor indicado a vários prêmios americanos de ficção científica, e Weinberg, ganhador de prêmios como World Fantasy Award e roteirista da revista Cable , da Marvel Comics, analisam cuidadosamente essas primeiras histórias e utilizam os dados disponíveis nelas (detalhes ‘científicos’ sobre os personagens, como comparações entre sua velocidade e a de uma bala ou de uma locomotiva e o peso que conseguem levantar em comparação com aranhas ou formigas, por exemplo) para realizar pequenos experimentos teóricos.
 
A ciência dos super-heróis constata que os poderes de vários personagens, como o Flash ou o Super-Homem, realmente não passam de boas mentiras escondidas habilmente (ou nem tanto) sob ares de ciência. Porém, há análises que surpreendem e alguns personagens improváveis, como Namor, o Príncipe Submarino, se mostram um pouco mais plausíveis, ainda que um pouco modificados. Em qualquer um dos dois casos, refutar ou comprovar a possibilidade da existência desses seres vai gerar interessantes raciocínios.
 
Um dos maiores destaques é a discussão sobre astronomia suscitada pela análise de personagens extraterrestres como o Super-Homem ou da origem do poder ilimitado dos Lanternas Verdes, cujo anel energético permite materializar qualquer coisa na qual eles pensem. Personagens como os seres meio-homem, meio-peixe Namor e Aquaman ou o grupo de jovens com poderes derivados de mutações em seus genes conhecido como X-Men estimulam debates interessantes sobre genética e evolução; a velocidade do Flash e o poder de alterar seu tamanho do Homem-Formiga e do Elektron geram debates sobre anatomia, luz, física quântica e propriedades da matéria.
 
Mas, se você nunca se interessou por super-heróis, não se preocupe. O livro oferece uma introdução intensiva a esse universo para os mais desavisados e pode ser apreciado mesmo que você não tenha a menor idéia de quem é aquele tal de Clark Kent nem do que ele tem a ver com tudo isso, afinal. Essa contextualização é apresentada de forma resumida e agradável o suficiente para não causar tédio em leitores mais assíduos.
 
Os únicos pontos negativos são as ausências: muitos heróis com poderes interessantes foram deixados de fora (como o Demolidor e o Capitão América), assim como todos os supervilões. O autor justifica: personagens demais para páginas de menos.
 
A ciência dos Super-heróis é um livro interessante, divertido, de fácil leitura e que introduz e discute temas científicos relevantes. Além disso, é uma oportunidade única de ver seu herói preferido sob uma nova ótica, examinado minuciosamente pelas lentes da ciência – resta saber se ele passará no teste.

A ciência dos super-heróis
Lois Gresh e Robert Weinberg
Rio de Janeiro, 2005, Ediouro
115 páginas – R$ 39,90

Marcelo Garcia
Especial para a CH On-line
30/11/2005