Publicações antigas constituem uma das principais fontes de conhecimento sobre as épocas em que circularam. Na Biblioteca Nacional (BN), no Rio de Janeiro, a seção de periódicos disponibiliza aos pesquisadores coleções de jornais, revistas e boletins editados desde que as primeiras notícias puderam ser lidas no Brasil, em 1808. 

O acesso a esse material agora ficou mais fácil: mês passado foi lançada a Hemeroteca Digital Brasileira que, até o final do ano, pretende disponibilizar na internet o acervo completo de periódicos da instituição, o maior da América Latina.

A criação do portal começou em meados de 2011 e até agora já foram digitalizados 700 publicações. Até o final do ano esse número chegará a dois mil títulos, finalizando o processo. O número total de páginas ficará em torno de 9,5 milhões, sendo que cinco milhões já estão on-line.

De acordo com Ângela Bittencourt, coordenadora da BN Digital, que inclui a hemeroteca, também estão sendo instalados dez computadores na área de periódicos para quem preferir pesquisar na própria biblioteca. “Na prática, estamos substituindo o microfilme – forma de reprodução da maior parte do acervo físico – pelo suporte digital”, afirma.

Além da facilidade de acesso, a Hemeroteca Digital também traz um ganho econômico para quem precisa consultar os documentos históricos. Isso porque para tirar cópias do acervo físico são cobradas taxas, o que pode tornar uma pesquisa extensa bastante cara. Além disso, o pagamento tem que ser feito em uma agência bancária e o prazo para entrega das cópias pode chegar a 20 dias úteis.

Para a historiadora Monica Velloso, da Fundação Casa de Rui Barbosa, a criação do portal pode ser um estímulo para novas pesquisas. “A digitalização é fundamental nesse processo; além de permitir o acesso aos documentos a partir de qualquer lugar, essa iniciativa também pode fomentar o interesse por história na população em geral”, afirma.

O projeto teve orçamento de R$ 6 milhões, repassados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação através da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

‘Fé em Deus e pé na bola’, diz legenda do ‘Jornal do Brasil’ de 29 de junho de 1958 – dia em que o Brasil ganharia a sua primeira Copa do Mundo. Essa e outras publicações já estão disponíveis para consulta no portal da Hemeroteca Digital. (imagem: reprodução)

Situações contrastantes

Ao mesmo tempo em que foi noticiada a inauguração da hemeroteca digital, a BN também foi alvo de críticas. Na semana passada houve graves denúncias sobre as condições de armazenamento das cerca de 9 milhões de obras no prédio localizado no Centro do Rio de Janeiro. De acordo com um relatório de abril de 2011, há total despreparo do estabelecimento para a eventualidade de um incêndio na sede ou em seu anexo.

O documento, encomendado pela própria BN, apontou que muitos extintores eram impróprios ou estavam bloqueados. No prédio anexo foi constatada a presença de grandes quantidades de entulho, fiação improvisada na casa de máquinas e uma infestação de cupins no segundo andar.

De acordo com a Biblioteca Nacional, os extintores já foram substituídos e a instituição está investindo para melhorar as condições de prevenção e combate a incêndios.

Outro grave problema é o ar-condicionado da sede, que parou de funcionar este ano depois de provocar um vazamento que alagou a área de armazenamento dos periódicos, danificando vários jornais. Com isso, a temperatura nos locais onde várias obras ficam guardadas chega a 50°C, muito acima dos 22°C ideais para a preservação.

A Hemeroteca Digital, por outro lado, faz parte de um conjunto de medidas voltadas a maior divulgação do acervo e de incentivo à leitura. Além do projeto de disponibilizar on-line todos os itens de seu acervo em domínio público, diversos editais vêm sendo lançados para conceder bolsas de pesquisa e produção de textos e para apoio a coedições e à tradução, entre outras iniciativas para a difusão da literatura brasileira no exterior.

Yuri Hutflesz

Ciência Hoje On-line