O norte-americano Dan Meyer, engolidor de espadas profissional, foi um dos ganhadores do Ig Nobel de medicina deste ano, como co-autor de um estudo que analisou os efeitos colaterais da sua prática sobre a saúde (foto: Cutting Edge Innertainment).
O estudo que avaliou os efeitos colaterais do hábito de engolir espadas sobre a saúde dos praticantes dessa arte é um dos destaques deste ano do Ig Nobel, o maior – e talvez único – prêmio humorístico da comunidade científica. O trabalho da dupla laureada na categoria medicina – Brian Witcombe e Dan Meyer – foi publicado no prestigioso British Medical Journal . Witcombe é um radiologista e Meyer, engolidor de espadas profissional.
A décima-sétima edição do Ig Nobel, que celebra pesquisas que fazem primeiro rir e depois pensar, celebrou também, na categoria química, o trabalho da japonesa Mayu Yamamoto. A laureada desenvolveu um método para extrair a vanilina – substância responsável pelo gosto e aroma da baunilha – a partir do esterco de vaca. Em sua homenagem, uma sorveteria de Cambridge (cidade norte-americana onde fica a Universidade Harvard, cujos estudantes estão envolvidos na promoção do Ig) criou um sabor especial de baunilha que foi oferecido à degustação pública hoje.
Outro destaque da premiação deste ano foi a láurea na categoria paz, concedida ao Laboratório Wright da Força Aérea norte-americana. A instituição foi agraciada por ter estimulado pesquisas para desenvolver uma arma química que promovesse a atração homossexual entre os soldados do campo inimigo.
Um aspecto que chamou a atenção no Ig Nobel 2007 foi a presença significativa de cientistas sul-americanos – nenhum deles brasileiro – entre os premiados. Um grupo da Universidade de Quilmes, na Argentina, levou o Ig na categoria aviação por mostrar que o sildenafil, princípio ativo do Viagra, droga contra a impotência, é capaz de combater em ratos os efeitos do jet-lag – indisposição causada por longas viagens de avião. O estudo foi publicado este ano na revista PNAS , uma das mais importantes do meio científico, e ganhou grande destaque na imprensa.
Outro laureado sul-americano é o chileno Enrique Cerda Villablanca, que, ao lado do indiano Lakshminarayanan Mahadevan, levou o prêmio de física por mostrar como os lençóis ficam enrugados. Completa a lista latina o colombiano Juan Manuel Toro, um dos três pesquisadores da Universidade de Barcelona condecorados na categoria lingüística. Seu grupo mostrou que ratos, ao escutar pessoas falando japonês e holandês ao contrário , são incapazes de distinguir as duas línguas.
Mais humanidades
A estatueta entregue a cada um dos laureados do Ig Nobel 2007 representa um ovo e uma galinha – o tema da cerimônia de premiação deste ano, que contou com uma mini-ópera chamada Galinha vs. Ovo (foto: Annals of Improbable Research).
Ainda no campo das humanidades, outra vencedora foi a australiana Glenda Browne, na categoria literatura, por estudar como os artigos definidos (o/a/os/as) podem ser problemáticos quando se tenta listar livros, artigos ou outros itens em ordem alfabética. Já o prêmio de economia foi para o inventor taiwanês Kuo Cheng Hsieh, que patenteou um dispositivo para capturar ladrões de banco com uma rede, como nas armadilhas de desenhos animados. No entanto, o comitê organizador do Ig não conseguiu localizar Hsieh para notificá-lo de que havia sido agraciado.
Completam a premiação deste ano o norte-americano Brian Wansink e a holandesa Johanna van Bronswijk. Wansink foi premiado na categoria nutrição, por estudar o efeito do tamanho da porção de comida sobre a quantidade ingerida – ele realizou experimentos com pratos de sopa com fundo falso, cujo conteúdo nunca terminava. Van Bronswijk, por fim, levou sozinha o prêmio de biologia, por realizar um censo de todos os ácaros, insetos, aracnídeos, bactérias, fungos e outros seres vivos com os quais dividimos a cama.
Os prêmios foram entregues na noite de ontem, em concorrida cerimônia no auditório Sanders, em Harvard. Entre os dez grupos ou indivíduos premiados, sete compareceram pessoalmente ou enviaram representantes para receber a láurea. Seis premiados com o Nobel “de verdade” estavam presentes na cerimônia, para entregar o Ig, cada vez mais consolidado no calendário científico como um divertido contraponto ao anúncio dos sisudos prêmios Nobel – que acontece a partir da próxima segunda-feira.
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
05/10/2007