
O Tempel 1 é atingido pelo projétil lançado pela sonda Deep Impact. Foto: NASA/JPL-Caltech/UMD.
Segundo Daniela Lazzaro, pesquisadora do Observatório Nacional, “os cometas surgiram nas bordas do Sistema Solar e seus núcleos, pouco alterados pelo calor do Sol, ainda guardam características primitivas”. A maioria dos cientistas acredita que, ao se chocar contra a Terra, esses corpos tenham trazido elementos como hidrogênio e oxigênio e, assim, possibilitado o inicio da vida no planeta. Com o projeto Deep Impact , pela primeira vez, o homem conseguiu interagir ativamente com um corpo celeste. No caso, justamente com um cometa.
A sonda estava há 172 dias no espaço e percorreu 431 milhões de quilômetros até o encontro de hoje. O projétil que se chocou com o Tempel 1 a mais de 35.000 km/h era do tamanho de uma máquina de lavar, pesava 372 kg e era feito de cobre. “O cobre foi usado porque não se acredita que esse metal faça parte da composição do núcleo do cometa”, explica Lazzaro. O projétil registrou, com uma câmera interna, os minutos finais da aproximação, material que servirá de fonte de pesquisa para a Nasa. Já a sonda foi espectadora privilegiada do choque: tirou fotos e registrou dados da explosão a apenas 500 mil km de distância, durante cerca de 15 minutos, antes de entrar em modo de proteção para passar pelos destroços da cauda do cometa.
A operação pode amenizar a má impressão causada pelos últimos fracassos da Nasa. O Deep Impact , além de poder trazer informações preciosas sobre a origem de nosso sistema, foi comparativamente barato, rápido e mostrou grande refinamento tecnológico. Liberado pelo módulo espacial 22 horas antes do choque, o Impactor realizou três correções em sua trajetória, a última apenas dois minutos antes do fim. A precisão impressiona: o impacto ocorreu no horário estimado e, segundo o Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, atingiu o núcleo, de apenas 6,5 km de largura, exatamente no local planejado.
Apesar do sucesso da missão, o trabalho está longe do fim. Os cientistas vão analisar o vídeo gravado pelo projétil e os dados transmitidos pela sonda. “Uma das questões é definir o que são as crateras que, no vídeo, aparecem na superfície do cometa” comenta Lazzaro. O estudo da cratera gerada pelo impacto assim como da quantidade e composição dos destroços vai responder a dúvidas quanto à densidade do cometa e seus elementos constituintes. “Só podemos saber, por enquanto, que o núcleo não pode ser fofo como muitos pensavam, mas formado de algum material sólido, por isso a explosão.”
A divulgação dos primeiros resultados está marcada para o Congresso Mundial de Astronomia que acontece entre os dias 7 e 12 de agosto em Búzios, Rio de Janeiro. “Essa vai ser a primeira chance de especialistas do mundo inteiro discutirem os resultados do experimento”, afirma Lazzaro. É uma honra sediar o congresso e, mais ainda, servir de palco para esse debate.”
Clique aqui para assistir a um vídeo que registra
o choque com o cometa Tempel 1 (477Kb).
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line
04/07/05