Povo indígena com maior população no Alto Xingu, no Mato Grosso, os kuikuros estão bem na foto: são o tema da exposição ‘Nus e vestidos a caráter’, do antropólogo, cineasta e fotógrafo Carlos Fausto, em cartaz na Casa Europeia da Fotografia, em Paris, na França. A mostra reúne imagens produzidas por Fausto ao longo dos últimos 13 anos e retratam a complexidade da interação cultural entre os grupos indígenas e a sociedade brasileira moderna.
No total, são 16 fotografias em preto e branco registradas no Parque Nacional Indígena do Xingu. Segundo Fausto, a proposta de revelar a ambígua relação entre modernidade e tradição no interior das tribos aparece, em especial, na observação das formas de apresentação e representação dos indígenas, manifestadas em suas vestimentas e pinturas corporais.
“O objetivo é trazer uma reflexão sobre a relação entre os povos indígenas e a sociedade nacional, os grandes desafios que isso coloca hoje para essas populações”, avalia. “Por isso, a exposição é composta por um conjunto de imagens ambivalentes e paradoxais, que ilustram bem como é a situação contemporânea.”
Após essa temporada na Europa – que termina no dia 27/10 –, os planos do antropólogo são de trazer a exposição ‘Nus e vestidos a caráter’ para o Brasil, possivelmente para o Rio de Janeiro, em 2014.
Tradição e cultura documentados
A mostra é a mais recente produção relacionada ao trabalho que Fausto desenvolve no Alto Xingu. O antropólogo, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dedica-se desde 1988 à documentação da tradição e cultura dos povos indígenas da Amazônia e possui diversas obras sobre o tema. Além disso, foi codiretor, ao lado de Leonardo Sette e Takuma Kuikuro, do documentário As hiper mulheres, de 2011.
O longa-metragem conta a história de um homem que, temendo a morte da esposa idosa, pede pela realização do Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu, para que ela possa cantar pela última vez. A produção aborda o risco de interrupção do ciclo hereditário de transmissão das tradições orais do povo kuikuro, potencializado pela perspectiva da morte da única indígena que conhece todas as canções.
O filme, exibido em diversas partes do mundo e premiado em festivais como os de Brasília e Gramado, foi realizado em parceria com o projeto Vídeo nas Aldeias, que tem contribuído para a autorrepresentação audiovisual dos índios brasileiros.
Marcelo Garcia
Ciência Hoje On-line