Autor do livro TV digital e produção interativa: a comunidade manda notícias, Crocomo sugere uma experiência que daqui a algum tempo poderá se tornar corriqueira: a veiculação de conteúdo televisivo produzido pelos próprios telespectadores. “No caso do videodocumentário sobre a caça à baleia”, afirma Crocomo, “tenho certeza de que ao menos a população de Imbituba teria grande interesse em ver o programa”.
O documentário foi produzido em 2004, como parte do projeto de doutorado do jornalista, desenvolvido na UFSC. A proposta era experimentar um novo modelo de programa interativo para a TV digital, no qual a comunidade produzisse e veiculasse informações sobre sua realidade. Para Crocomo, as pessoas se sentem valorizadas quando se vêem na tela e terão, conseqüentemente, interesse em continuar produzindo conteúdo. (Mais informações sobre produção interativa para televisão podem ser encontradas em www.marint.ufsc.br e www.ntdi.ufsc.br .)
Do ponto de vista técnico, a TV digital permite três diferentes níveis de interação: busca de informações já transmitidas e armazenadas no terminal de acesso; possibilidade de resposta a uma mensagem recebida, não necessariamente em tempo real; troca de informações em tempo real, como em um chat. “O uso dos recursos disponíveis é que determina o tipo de interatividade que se terá”, diz Crocomo. “Quando tiverem banda larga acoplada à TV, as pessoas poderão enviar não só respostas, mas também programas inteiros.”
Para que o modelo proposto pelo autor se concretize, é preciso que a comunidade disponha – além de equipamentos – de conhecimento técnico. “É aí que as escolas podem entrar”, afirma o jornalista. Segundo ele, em geral a escola dispõe de espaço, professores, computadores e, em muitos casos, de uma câmera simples. Mas, para Crocomo, as emissoras também podem promover a inserção digital das comunidades. “Os convites para produção e interação devem partir das próprias emissoras”, opina.
A princípio, a iniciativa pode proceder de canais educativos e universitários. Mas Crocomo acredita que as emissoras comerciais, objetivando um diferencial competitivo, logo começarão a utilizar programas produzidos pelos próprios telespectadores. A produção em vídeo é, na sua opinião, apenas uma possibilidade entre tantas outras a serem exploradas. As pessoas poderiam, por exemplo, montar clipes a partir de fotos obtidas com câmeras digitais simples.
Decodificador
Além de apresentar um novo modelo de interatividade para a TV digital, o livro trata de conceitos técnicos e sociológicos sobre os modelos analógicos e digitais, que, segundo previsões, devem coexistir por pelo menos 10 anos. Traz também informações sobre o modelo brasileiro de TV digital. Na obra, é possível encontrar ainda discussões sobre interatividade e sobre a relação entre televisão e internet, da qual o padrão televisivo digital ‘toma emprestada’ a interface. Nas páginas finais, há um glossário de termos e expressões relacionados com o tema.
Dados apresentados no livro mostram que 91,4% dos domicílios brasileiros possuem aparelho de televisão. Mas, para ter acesso ao novo modelo de transmissão, o telespectador precisa de um decodificador, que, segundo Crocomo, deverá custar, com subsídios governamentais, entre R$200 e R$250. Para o autor, o aspecto crucial da questão são os diferentes modos de relacionamento das comunidades com a nova tecnologia, antes que ela chegue à casa dos brasileiros com pacotes de programação prontos e com um extenso cardápio de opções de compra.
TV digital e produção interativa: a comunidade manda notícias
Fernando Crocomo
Florianópolis, 2007, Editora da UFSC
178 páginas – R$ 30,00
(48) 3721-9408 / 3721-9686
À venda em www.editora.ufsc.br
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Jaqueline Bartzen
Especial para a CH On-line / PR
17/01/2008