Internet: ferramenta da ciência

A internet nasceu intimamente ligada às demandas das pesquisas científicas. Na década de 1990, cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) buscavam uma forma de colocar em uma única gaveta os milhões de dados espalhados por diferentes máquinas. Surgia ali o embrião do que é a rede hoje.

O uso da internet pelos cientistas extrapolou a simples organização de dados, sobretudo após o surgimento da rede 2.0

Vinte anos depois, o uso da internet pelos cientistas extrapolou a simples organização de dados, sobretudo após o surgimento da rede 2.0 – na qual surgiram ferramentas para produzir conteúdo coletivamente.

Há pesquisas assinadas por cientistas que nunca se conheceram pessoalmente e trocaram as primeiras palavras num blogue. Exemplo mais recente é o comentário publicado na Science que contesta a pesquisa sobre as misteriosas bactérias que supostamente incorporavam arsênio ao seu DNA.

Grande parte dos dados desse comentário foi partilhada no blogue de um dos autores, a microbiologista Rosie Redfield. Nele, Redfield também recrutou cientistas para dar continuidade a fases da pesquisa que não conseguiria levar adiante em seu laboratório, no Canadá.

Outro fenômeno, relatado na CH de maio do ano passado, é o movimento conhecido como ‘ciência cidadã‘, no qual voluntários não cientistas ajudam a processar dados que desafiam análises tradicionais. Sem a internet, essa comunicação entre pesquisadores e não especialistas espalhados pelo mundo seria impossível.

Novidade

Um uso mais recente da rede por parte dos pesquisadores vem chamando cada vez mais atenção: a substituição da ida ao campo ou da experimentação controlada em laboratório pela observação de conteúdo disponível na internet.

Em 2010, publicamos post no Bússola sobre pesquisadores norte-americanos que decidiram estudar o comportamento dos usuários de sálvia (sim, muitos jovens dos Estados Unidos fumam uma das espécies do tempero com fins recreativos e alucinógenos – a julgar pelas reações nos vídeos, o efeito é radical).

Segundo os pesquisadores, dificilmente seria possível monitorar em laboratório a reação humana ao consumo de sálvia de modo tão autêntico. Além disso, a amostra – o famoso “n” dos trabalhos científicos – de jovens sofrendo a onda da sálvia no Youtube é de fazer inveja a muitas pesquisas sérias (em 2010, eram 7 mil vídeos; hoje, mais de 21 mil). 

Assista abaixo a vídeo publicado no
Youtube da reação de jovem após fumar sálvia

Nova espécie descoberta

Recentemente, o entomologista Shaun Winterton, que trabalha nos Estados Unidos, observava insetos no Flickr, site de armazenamento e compartilhamento de fotografias. Uma imagem despertou seu interesse: a de um inseto que, apesar de ser identificado como sendo de um gênero conhecido na literatura científica, o Chrysoperla, apresentava linhas pretas e pintas azuis no corpo estranhas a esse grupo.

Intrigado, Winterton entrou em contato com o autor da foto e descobriu onde ela tinha sido tirada: na Malásia. Uma expedição foi organizada até o país e conseguiu capturar um exemplar do inseto – era mesmo uma nova espécie, que foi batizada de Semachrysa jade. Não seria exagero dizer que uma nova espécie foi descoberta pela internet.

Pirâmides no Egito

É possível que duas pirâmides escondidas no Egito tenham sido encontradas com a observação das imagens do satélite do Google Earth, programa desenvolvido pelo Google que mapeia a Terra e tem versão on-line.

Existe, inclusive, uma página que monitora formações estranhas encontradas por pesquisadores na ferramenta. Depois de examinar uma dessas formações, a geóloga Angela Micol escreveu na página do Google Earth Anomalies [Anomalias no Google Earth, em português]: “O monte parece ter uma curiosa forma triangular e um topo plano que passou por uma forte erosão do tempo”.

Pirâmides
Pirâmide escondida, com formação triangular, pode ter sido descoberta por meio de imagens de satélite disponibilizadas pelo Google Earth. (foto: reprodução/ Google Earth)

Ela afirma que as imagens falam por si e que já justificariam a visita ao campo, como fez o pesquisador norte-americano com o inseto da Malásia.

Fica a nossa pergunta: você, leitor, conhece casos de cientistas que usaram a internet de forma similar às descritas acima? O campo de comentários e as nossas redes sociais – Facebook e Twitter – estão abertos à sua participação.

Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line