Irrigação tardia

Ainda que tardiamente, o Brasil desperta para a necessidade da agricultura irrigada, ou seja, aquela que não é totalmente refém do clima. Só em 2013 o Governo Federal aprovou uma Política Nacional de Irrigação – um novo marco legal para o desenvolvimento do setor.

Tecnicamente falando, na agricultura irrigada, o produtor pode controlar a captação, o armazenamento, a administração e a drenagem da água, um recurso que, ao que tudo indica, será valorado a peso de ouro nas próximas décadas. “Nosso objetivo é atingir, até 2030, pelo menos 14 milhões de hectares irrigados no país”, informou à CH On-line o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Nenhuma região do país tem mais que metade de sua área agrícola otimizada com métodos de irrigação

Mas como honrar essa meta? A estratégia o Ministério é deveras simples: serão concedidos alguns agrados e incentivos nas taxas de juros para produtores desejosos de investir em tecnologias de irrigação – que pode ser feita por meio de canais, tubos, mangueiras, entre outros métodos existentes – no território nacional. Na prática, agricultores terão juros maternalmente reduzidos – para algo entre 1% a 4% ao ano – para financiar sistemas de irrigação em suas propriedades, o que é, segundo os especialistas, uma excelente ideia.

Se bem-sucedido, o plano colocará o país em um patamar ligeiramente mais próximo do que se espera de uma potência agrícola: desperdiçaremos, então, bem menos água.

“Na verdade, não existem cálculos que contabilizem qual a exata dimensão de nosso desperdício de recursos hídricos”, diz o engenheiro florestal Laerte Scanavaca, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Meio Ambiente). O que se sabe, porém, é que nenhuma região do país tem mais que metade de sua área agrícola otimizada com métodos de irrigação. Destaque para o Nordeste, com míseros 2%, e para o Centro-oeste, à míngua com só 12% de suas terras beneficiados por tais tecnologias.

Confira no gráfico abaixo a área agricultável (em porcentagem) de cada região do país que de fato é atendida por sistemas de irrigação:

O Brasil tem ainda um longo caminho à frente. Mas, em termos de área irrigada, vale lembrar que o país tem apresentado evolução ao longo das últimas décadas – é o que sugerem informações do último censo agropecuário, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006.

Confira no gráfico a evolução da área irrigada no Brasil (em mil hectares), entre 1996 e 2006:

A relativa defasagem brasileira quando o assunto é irrigação talvez possa ser explicada pela ausência histórica de projetos duradouros. É verdade que diversas iniciativas já foram implementadas em diversos estados – durante diferentes governos. Porém, uma política nacional para consolidar a agricultura irrigada ainda é, ironicamente, novidade para o país.

Este é o terceiro texto da série especial ‘Terra e água’, publicada esta semana na CH On-line.

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line