Mais álcool, sem destruir florestas

Existe a preocupação de que o investimento na produção de álcool para substituir os combustíveis fósseis provoque o avanço do cultivo da cana-de-açúcar sobre áreas de floresta. (Foto: Jesuíno Souza).

A necessidade de substituir os combustíveis derivados de petróleo por outros menos poluentes tem gerado preocupação quanto a uma possível expansão das plantações de cana-de-açúcar, usada na produção de álcool, em direção à floresta. Mas, segundo pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFCE), a extensão de solo disponível para agricultura no Brasil é grande. Além disso, já existem tecnologias que permitem aumentar a produção de álcool sem ampliar a área de cana plantada.

De acordo com o químico Afrânio Aragão Craveiro, gerente do Parque de Desenvolvimento Tecnológico (Padetec) da UFCE, o Brasil tem 394 milhões de hectares disponíveis para o plantio. “Mas apenas 66 milhões de hectares são cultivados”, disse ele durante a reunião anual da SBPC. Desses, 2,7 milhões são ocupados por cana-de-açúcar.

O álcool (etanol) é um dos biocombustíveis cujo uso está mais avançado. Craveiro destaca que esse combustível movimenta atualmente no Brasil R$ 41 bilhões, o que representa aproximadamente 3,6% do PIB nacional.

O país produz um etanol barato e com boa eficiência na geração de energia. Por outro lado, a eficiência na produção do álcool é baixa. Seu processo de fabricação gera um volume de resíduos grande, pois o bagaço da cana não é usado.

Tecnologia é a solução
A tecnologia pode ser a chave para resolver os problemas associados à produção do álcool. Segundo Craveiro, já existem técnicas capazes de aumentar a produção do combustível usando a mesma quantidade de biomassa plantada. Ele cita um processo, desenvolvido por uma empresa paulista – a maior fabricante brasileira de usinas de álcool –, que consegue dobrar a produção.

O método, chamado hidrólise rápida do bagaço, utiliza como matéria-prima o bagaço da cana, que não é aproveitado no processo de produção tradicional, o que ainda soluciona o problema ambiental associado ao descarte desse material. ”São produzidos 109 litros de álcool por tonelada de bagaço”, diz. A produção a partir do caldo gera hoje 70 litros de combustível por tonelada de cana.

Atualmente, há uma planta dessa empresa em produção em Pirassununga (São Paulo), com capacidade para produzir 5 mil litros por dia. “Deve ser construída também uma planta para produção de 50 mil litros diários”, afirma Craveiro.

O pesquisador destaca também uma tecnologia desenvolvida no Padetec que aumenta em 5% o rendimento da produção de álcool considerando uma mesma quantidade de matéria-prima. “Isso vai representar um acréscimo de 1 bilhão de litros de álcool por ano para o Brasil”, diz.

O método, já patenteado, melhora a fermentação do caldo da cana. Ele usa uma estrutura feita de quitosana (polissacarídeo extraído da casca do camarão) com ação bactericida e fungicida para prender a levedura responsável por esse processo, chamada Saccharomyces cerevisiae . “A quitosana não afeta a S. cerevisiae , mas mata as leveduras selvagens que tentam se aproximar para competir com ela pelo açúcar usado para a fermentação”, explica Craveiro.

O Padetec pretende montar uma planta com capacidade de produção de 100 litros por hora para testar o processo em escala industrial. A previsão é de que o equipamento esteja pronto daqui a dois anos. “Se alcançarmos bons resultados, vamos transferir a tecnologia para todos os usineiros”, diz o pesquisador, acrescentando que o método tem baixo custo, pois a quitosana pode ser reutilizada várias vezes com eficiência.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
16/07/2007