Mesmas leituras, diferentes opiniões

Pesquisa feita pela revista Nature em conjunto com a Scientific American levanta questões interessantes sobre o entendimento público da ciência. O principal diferencial do levantamento on-line é o fato de ele ter sido feito com uma população – incluindo brasileiros – alfabetizada cientificamente. 

Resultados mais marcantes: os altos percentuais de japoneses e chineses que alegaram haver dúvidas sobre a evolução dos seres vivos e sobre o Big Bang (início e evolução do universo). Entre os primeiros, foram 35% aqueles que responderam sim a essa questão; entre os chineses, 49%. 

No mais, a pesquisa reforça aquilo que se esperava de um público letrado nas ciências: cientistas são confiáveis; o governo deve financiar a pesquisa; a experimentação com animais é importante; humanos são culpados pelas mudanças globais. 

A principal crítica – reconhecida pelas revistas – é que a pesquisa tem poucos respondentes fora dos Estados Unidos. No Japão, foram 1.195; na China, 269. 

Outra crítica é sobre temas escolhidos e o modo como foram formuladas certas questões, como apontam entrevistados.

Entrevistados criticam formulação de certas questões da pesquisa

Por exemplo, o tema Big Bang é motivo de debate entre a comunidade de especialistas, e perguntas do tipo “Há alguma dúvida de que a evolução, incluindo a seleção natural, pode explicar as formas e variedades de vida?” podem ser respondidas com um ‘sim’ mesmo por quem não acredita em criacionismo – por sinal, dos 422 brasileiros, 23,5% responderam ‘sim’ a essa questão. 

Enfim, a pesquisa mostra que mesmo o público dito informado sobre ciência tem opiniões bem diferentes sobre questões científicas daquelas que são consideradas consensuais entre especialistas. 

A planilha com os resultados completos, em inglês, da pesquisa está disponível na internet. 

 

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/RJ

Texto originalmente publicado na CH 276 (novembro/2010).