O irritante zumbido dos mosquitos pode ser para eles uma poderosa arma de sedução. É o que diz um estudo americano que revela que o Aedes aegypti faz um verdadeiro dueto de acasalamento, no qual macho e fêmea batem as asas na mesma frequência e produzem o mesmo som. Essa descoberta pode ser importante no combate à proliferação do mosquito transmissor da dengue.
Os resultados, publicados na revista Science desta semana, mostram que a modulação da frequência de voo ocorre quando macho e fêmea estão a poucos centímetros um do outro. Pesquisadores da Universidade Cornell (Estados Unidos) captaram em laboratório o som produzido pelo voo do Aedes aegypti com um microfone especial. Depois, eles gravaram a interação acústica entre macho e fêmea, ao aproximar um do campo de audição do outro.
Clique na imagem acima para assistir a um vídeo do voo de acasalamento do Aedes aegypti. As imagens, desaceleradas para facilitar a observação, mostram um macho perseguindo uma fêmea em voo livre – durante o voo, macho e fêmea emitem um som de mesma frequência. Para obter as imagens, os cientistas puseram 12 machos e fêmeas em um cercado transparente no qual os insetos puderam voar livremente por horas. O som foi obtido de outro acasalamento de mosquitos dessa espécie, realizado em laboratório (vídeo: Science /AAAS).
Entre os pares testados durante a interação, 67% alteraram suas frequências de voo de 400 Hz, no caso da fêmea, e de 600 Hz, no do macho, para uma frequência de 1200 Hz. O som produzido é mais agudo e aproximadamente uma oitava e meia acima do Lá de 440 Hz – a nota usada como padrão para a afinação de todos os instrumentos musicais.
Os pesquisadores acreditam que liberar no meio ambiente machos modificados em laboratório incapazes de modular a frequência do voo poderia ser um meio de controlar a população do Aedes aegypti. Assim, a medida pode ser utilizada para combater a dengue e a febre amarela, também transmitida pelo mosquito.
“Nossa hipótese é que a habilidade dos machos de modular seus tons de voo para as fêmeas é resultado da seleção sexual”, afirmam os autores no artigo. “Nossas descobertas abrem a porta para um novo entendimento do comportamento de acasalamento dos mosquitos.”
Os resultados mostram também que o limite de audição do Aedes aegypti é maior do que se pensava: acreditava-se que os machos não podiam ouvir frequências acima de 800 Hz e que as fêmeas eram completamente surdas. Os pesquisadores mostraram que os mosquitos respondem a sons de até 2.000 Hz – humanos são capazes de ouvir sons com frequência entre 20 e 20.000 Hz.
Tatiane Leal
Ciência Hoje On-line
08/01/2009