Uma década atrás, o neurocientista e colunista da CH On-line Roberto Lent lançava o livro Cem bilhões de neurônios? Conceitos fundamentais de neurociência. Com ilustrações explicativas e textos escritos em linguagem acessível a leigos, a obra de 698 páginas se tornou referência na área. 

Mas nem mesmo um livro tão completo resistiu ao tempo. A quantidade e a velocidade dos avanços experimentados pela neurociência na última década forçaram Lent a revisar e atualizar a obra. Desse processo nasceu a segunda edição do trabalho, publicada no primeiro trimestre deste ano.

“A neurociência tem se modificado de modo muito rápido”, avalia Lent. “Quando a primeira edição saiu, ainda não se sabia que o sistema nervoso adulto continha células-tronco”, exemplifica. 

Entre as várias conquistas que deram margem à nova publicação estão a evolução do conhecimento sobre as bases neurais das funções mais complexas do cérebro (percepção, linguagem, cognição e emoção) e a elucidação de mecanismos moleculares da memória. Além disso, descobriu-se que as células gliais — células não neuronais do sistema nervoso — participam ativamente do processamento de informações junto com os neurônios.

A segunda edição do livro, com informações e imagens atualizadas (imagem: reprodução).

Aliás, não foram apenas os capítulos do livro que precisaram ser revistos e reescritos. O título, Cem bilhões de neurônios, também teve de sofrer um ajuste. Em 2000, o número representava a quantidade estimada dessas células no cérebro humano. 

No entanto, o próprio Lent contribuiu para a criação de um novo método de contagem de células cerebrais, cujos resultados indicaram uma média de 86 bilhões de neurônios. A solução, então, foi colocar um ponto de interrogação no título (Cem bilhões de neurônios?) enquanto os pesquisadores não têm absoluta certeza do novo número.

Linguagem para leigos

Na nova edição, todos os capítulos contam com ilustrações novas ou atualizadas. Os quadros escritos por especialistas – que tratam de assuntos específicos relacionados ao campo de trabalho de cada um – também foram renovados. A obra traz ainda textos sobre a contribuição de neurocientistas brasileiros para a disciplina; um miniatlas de neuroanatomia; e um DVD com todas as figuras disponíveis para utilização livre em aulas e palestras.

Segundo Lent, foi mantida no livro a proposta de utilizar uma linguagem coloquial e não técnica que cativasse tanto estudantes da área de saúde como leigos interessados em conhecer mais sobre o assunto.

“Procurei me concentrar nas funções do cérebro sem abrir mão de esclarecer sua intrincada arquitetura morfológica”, explica. “O maior desafio é atrair os jovens para esse ramo da ciência. O cérebro é a última fronteira do conhecimento humano.”

Mas como acompanhar a evolução de uma ciência que se renova tão rapidamente? Para o autor, o ideal seria publicar uma nova edição do livro a cada ano. No entanto, como essa opção é inviável, ele promete continuar utilizando sua coluna na CH On-line como fonte de atualização permanente. 

“Na coluna, o leitor poderá acompanhar as mudanças de paradigma que ocorrerão nesta segunda década do século 21, bem como os avanços pontuais em cada um dos 20 temas que compõem os capítulos do livro”, destaca Lent.

Camilla Muniz
Ciência Hoje On-line