Nem tão simples assim

Transgênico não é mais uma palavra que assusta. Graças à visibilidade que esse tema tem tido na imprensa, ninguém mais pode dizer que nunca ouviu falar nisso. Mas daí a entender realmente o significado dessa biotecnologia em nossa vida cotidiana é outra história bem mais complicada. Por isso, quando um livrinho de 115 páginas se propõe a explicar os riscos dos produtos transgênicos para a saúde e o meio ambiente, suas vantagens, as questões de patentes e a posição do Brasil nesse contexto, parece mesmo que de um dia para o outro fica fácil saber tudo.
 
Quisera ser assim. Mas o que os autores do livro Transgênicos, recursos genéticos e segurança alimentar: O que está em jogo nos debates? pretendem é mostrar o que está por trás das discussões envolvendo transgênicos. E não necessariamente simplificando demais o que é, por natureza, complexo. Por isso, o texto dos sociólogos Lavínia Pessanha e John Wilkinson não é um bê-a-bá. Ele tem um quê de trabalho acadêmico e, embora se apresente como leitura para leigos, oferece análises complexas sobre economia, política, sociologia, direito e biotecnologia.
 
Um ponto central do livro aborda a crescente exigência de alimentos seguros por parte dos consumidores. Por isso, precisam saber que os transgênicos não são só aqueles produtos que tiveram características nutricionais melhoradas, mas também os que foram alterados para resistirem mais a herbicidas e pestes, além dos que foram feitos especialmente para a síntese de vacinas e hormônios. A demanda por qualidade levou à elaboração de padrões internacionais para assegurar a proteção da saúde dos consumidores, assim como regras de rotulagem dos produtos.
 
Mesmo com tudo isso, as conseqüências à saúde e ao meio ambiente em médio e longo prazos continuam sendo as maiores questões que a biotecnologia ainda não conseguiu resolver. Mas há quem se aproprie do direito dessa dúvida para defender o uso dos transgênicos em larga escala, como fazem os Estados Unidos. Lá, o governo liberou o consumo desses alimentos, sob pretexto de que ainda não é possível provar que eles provoquem algum mal. No entanto, muitos países preferiram aderir ao princípio da precaução – os europeus são os que mais enfaticamente levantam essa bandeira.
 
Junto com a posição formal dos governos, diversas organizações começaram, em meados da década de 1990, a se manifestar contra os transgênicos. Os autores fazem questão de recorrer a exemplos ao contar parte dessa história. Para ilustrá-la, apresentam tabelas com os países e grupos mais atuantes na rejeição dos transgênicos.
 
O livro traz ainda, em tabelas, as regras nacionais para rotulagem dos alimentos geneticamente modificados, a legislação brasileira sobre biossegurança, meio ambiente, propriedade intelectual e direitos do consumidor, além do relato dos últimos acontecimentos envolvendo o uso de sementes transgênicas nos estados. Ao final do livro, a sensação é de alerta. Quem um dia tratar dessa questão de maneira simplificada demais ou não entendeu ou quer passar a perna no outro.

Transgênicos, recursos genéticos e segurança
alimentar
o que está em jogo nos debates?
Lavínia Pessanha e John Wilkinson
Campinas, 2005, Autores Associados
115 páginas – R$ 29,00

Andreia Fanzeres
Especial para a CH On-line
10/11/05

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