O Brasil na lanterna

Embora a economia verde ainda seja um conceito abstrato, alguns países já se movimentam para alterar seus modelos de produção e consumo. E, nessa corrida, o Brasil largou nas últimas posições, segundo o economista brasileiro Cláudio Frishtak, diretor do Centro de Crescimento Internacional (IGC, na sigla em inglês).

“Somos uma potência ambiental em potencial, mas apenas em potencial”, afirmou Frishtak em debate organizado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) no início de junho. “Poderíamos estar na fronteira da sustentabilidade, mas não estamos”, lamentou o economista, que também é consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), além de presidente da Inter B Consultoria Internacional de Negócios.

“Dos gastos totais em P&D no Brasil no ano de 2010, apenas 2,64% foram destinados à construção de uma economia minimamente verde”

“Dos gastos totais em P&D no Brasil no ano de 2010, apenas 2,64% foram destinados à construção de uma economia minimamente verde”, disse. “Jamais seremos uma potência ambiental se esse quadro permanecer”, sentenciou.

Para exemplificar seu argumento, Frishtak afirmou que o Brasil direciona generosos fomentos para a ampliação contínua de bens individuais, enquanto observa-se subinvestimentos nos bens coletivos. “Belo exemplo é o caso dos transportes. Continuamos com investimentos maciços em tecnologias do passado, isto é, em transporte individual.”

Para o economista, é preciso analisar criticamente o fato de termos expressivos amparos fiscais à indústria automobilística e quase inexistentes incentivos à produção de energia solar.

Números modestos

Frishtak frisou que a pesquisa científica e a inovação são as únicas formas de ingressarmos na economia verde. “De todo o conhecimento em ecologia e meio ambiente produzido no mundo, apenas 3% têm origem no Brasil”, lamentou.

Quando o assunto é energia, os números também não contribuem para uma imagem ‘verde’ do nosso país. Em 2010, foram registradas no Escritório Europeu de Patentes (EPO, na sigla em inglês) 10.491 patentes resultantes de tecnologia em energia solar e eólica. A contribuição do Brasil, a despeito de seu potencial, foi de apenas 43, ou seja, 0,4%.

Energia eólica
Apenas 0,4% das patentes na área de energia solar e eólica registradas no Escritório Europeu de Patentes em 2010 vem do Brasil. (foto: Sxc.hu/ barun patro)

“Muitos brasileiros se gabam por termos mais de 40% de nossa eletricidade baseada na matriz hídrica, supostamente limpa; mas não poderemos contar vantagem por muito tempo”, alertou o economista. “O mundo gira, e estamos ficando para trás; ainda não temos sequer regulação sólida para o setor de energia solar, como já existe na Alemanha, que tem grandes redes de produção fotovoltaica descentralizada.”

Segundo Frischtak, a sonolência de nosso desenvolvimento ‘sustentável’ não para por aí. Mesmo na agricultura – em tese, uma vocação brasileira – nós estamos atrasados: temos pouquíssimas patentes relacionadas às tecnologias utilizadas em nossos cultivos (caso da cana-de-açúcar, da soja, da mandioca e do eucalipto, por exemplo).

Precisamente, das 1.246 patentes registradas no EPO entre 2006 e 2010 para esses produtos, somente 11 são brasileiras. Todas as demais ficam nas mãos de China, Estados Unidos, Alemanha e Japão – países que, mesmo sem grande tradição agrária, já estão anos-luz à nossa frente.

O Brasil hoje está muito atrasado na área de pesquisa e desenvolvimento em sustentabilidade urbana

Esses números, e muitos outros, estão compilados no documento ‘Vantagens comparativas, inovação e economia verde’, publicado recentemente pelo economista. No mesmo trabalho, ele também analisou o percentual de publicações de artigos científicos brasileiros entre 2007 e 2009 em periódicos indexados na base de dados Thomson Reuters (ISI) Web of Knowledge em relação ao resto do mundo – com resultados também pouco dignos de comemoração.

Para arrematar, Frischtak ressaltou que o Brasil hoje está muito atrasado na área de pesquisa e desenvolvimento em sustentabilidade urbana. “É claro que temos conhecimento sendo desenvolvido nesse campo, majoritariamente em departamentos isolados em universidades. Mas ainda é pífia a integração desses saberes com nossa realidade urbana.”

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line