O nascimento da floresta

A formação da floresta amazônica é extremamente recente do ponto de vista da história geológica da Terra: as condições ambientais para o surgimento de uma floresta tropical úmida exuberante como temos hoje só se criaram há 6 milhões de anos. A evolução biológica na região não foi resultado apenas de fatores climáticos e das relações entre espécies, mas também de processos geológicos que mudaram a configuração do território e permitiram o estabelecimento de uma vasta biodiversidade.

Foz do rio Amazonas vista por satélite. A configuração atual da bacia hidrográfica amazônica – a maior do mundo – se estabeleceu há cerca de 27 mil anos (foto: World Wind/Nasa).

As informações paleontológicas, geológicas e biológicas disponíveis sobre a Amazônia mostram que a região mudou ao longo da história. “Nem sempre a floresta esteve aqui”, disse o paleozoólogo Peter Mann de Toledo, da Coordenação de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em conferência durante a Reunião Anual da SBPC. De tempos em tempos, se alternaram a vegetação de floresta tropical e áreas mais abertas. “Essa variação leva ao padrão de biodiversidade que temos hoje.”

Segundo Toledo, antes de 20 milhões de anos atrás, a Amazônia era um terreno continental com clima árido e não tinha umidade suficiente para suportar uma floresta tropical. Entre 24 e 12 milhões de anos atrás, grandes corpos de mar penetraram e regrediram sucessivamente na região. As condições ambientais para que se formasse uma floresta úmida exuberante como a Amazônia atual só apareceram há 6 milhões de anos, apesar da possibilidade de algumas espécies da biota amazônica já terem surgido antes disso.

A configuração atual da bacia hidrográfica amazônica é ainda mais recente: se estabeleceu há apenas 27 mil anos. Já o rio Amazonas se formou um pouco mais cedo: há 40 mil anos.

Com relação à dimensão da floresta, dados geológicos e paleontológicos obtidos a partir do estudo de diversos tipos de pólen mostram que a expansão das espécies só ocorreu há 4 mil anos, após a confluência de fatores climáticos ideais. “Este foi o último pico de expansão de espécies”, ressalta Toledo, acrescentando que hoje a Amazônia vive um processo de restrição.

O primeiro empurrão

Cordilheira dos Andes entre o Chile e a Argentina. O soerguimento dessa cadeia de montanhas, há 12 milhões de anos, foi um dos fatores geológicos que criaram as condições para a formação da floresta amazônica.

O pesquisador explica que as primeiras mudanças que permitiram a formação da floresta amazônica foram induzidas por eventos geológicos como o soerguimento da cordilheira dos Andes, há 12 milhões de anos. Apenas os fatores regionais relacionados a mudanças climáticas não seriam suficientes para influenciar os processos de seleção, diferenciação e extinção de espécies. “A evolução da biota na região amazônica está diretamente associada aos processos geológicos que alteraram a paisagem”, afirma.

 

Toledo conta que, entre 10 e 5 milhões de anos atrás, houve um processo de extinção da fauna da região, em muitos casos originária de outros continentes, como a América do Norte. “Nesse momento, surgiram os vertebrados endêmicos.” Atualmente, das 430 espécies de mamíferos que vivem na Amazônia, 130 são exclusivas da região.

 

Segundo o pesquisador, a compreensão da origem e adaptação das espécies é fundamental para se fazer a gestão do território com embasamento científico. “Entendendo os processos que levaram à formação da biota atual, podemos antecipar o que vai acontecer com as espécies no futuro.”

 

Para ele, a definição de unidades de conservação deveria observar a mudança de distribuição de espécies ao longo do tempo. “A construção de corredores de preservação poderia levar em conta não só a presença das espécies hoje no território, mas também a história da sua distribuição, com os processos de migração e adaptação”, propõe.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
12/07/2007