Os ancestrais dos europeus

Mais de 80% dos homens europeus são descendentes de grupos paleolíticos que chegaram ao continente vindos da Ásia Central e do Oriente Médio e viveram entre 25 mil e 40 mil anos atrás. Essa é a conclusão de um estudo realizado pela equipe de Peter A. Underhill, do Stanford Genome Technology Center, nos Estados Unidos, publicado pela revista Science em 10 de novembro de 2000. Os resultados reforçam as conclusões de arqueólogos, lingüistas e outros geneticistas sobre a ocupação da Europa por povos antigos.

O retrato genético da população européia atual aponta a descendência de povos que chegaram ao continente em três ondas migratórias distintas

Os pesquisadores analisaram o DNA de 1007 homens espalhados por 25 áreas da Europa, tendo por base o cromossomo Y. A análise identificou quatro haplótipos modernos – presentes em 80% dos europeus – que descendem de dois haplótipos já desaparecidos. Um deles é relacionado a um povo que alcançou seu auge na Europa ocidental há cerca de 35 mil anos e ficou conhecido pela elaboração de sofisticadas pinturas rupestres e ferramentas feitas a partir de chifres, ossos e marfim. O outro corresponde a um povo que emigrou do Oriente Médio há cerca de 22 mil anos; imagens de Vênus e pequenas e delicadas lâminas são alguns dos elementos dessa cultura conhecidos hoje. O grupo que empreendeu a primeira onda migratória dominou a Europa ocidental e meridional; o outro ocupou a Europa central e oriental.

Arte rupestre e imagens de Vênus caracterizaram a cultura
dos dois grupos paleolíticos que migraram para a Europa

O estudo identificou ainda quatro novas mutações que aparecem em 20% dos europeus. Elas são relacionadas à migração de um povo neolítico que vivia da agricultura e saiu do Oriente Médio rumo à Europa há cerca de 9 mil anos, como sustentam alguns registros arqueológicos. Os marcadores paleolíticos concentram-se no norte da Europa, e os neolíticos, no sul. Essa distribuição sugere que o grupo neolítico tenha se deslocado de barco pelo litoral.

Uma outra pesquisa recente que analisou o DNA mitocondrial de mulheres européias obteve os mesmos resultados do estudo com o cromossomo Y: 80% delas têm haplótipos paleolíticos e 20% possuem haplótiplos neolíticos. No entanto, os marcadores neolíticos das mulheres não estão concentrados ao longo do litoral do Mar Mediterrâneo, o que pode refletir diferenças entre os sexos nas rotas migratórias. Em muitas sociedades, as mulheres costumavam acompanhar a família dos maridos, enquanto os parentes do sexo masculino agrupavam-se geograficamente. Talvez por isso, a análise do cromossomo Y revela mais claramente a origem geográfica dos povos.

Alguns pesquisadores resistem em associar as evidências genéticas e arqueológicas, considerando que as taxas de mutação do cromosomo Y deixam uma grande margem de erro. Outros, embora concordem que os dados genéticos podem apresentar falhas, acreditam que é inevitável não fazer conexões, uma vez que os dois estudos genéticos e a arqueologia apontam para o mesmo caminho.

Thaís Fernandes
Ciência Hoje on-line
08/01/01