O filósofo britânico Bertrand Russell (foto: reprodução – www.marxists.org)
O filósofo Bertrand Russell (1872-1970) foi um dos maiores pensadores britânicos do século 20. Escreveu centenas de textos sobre os mais variados temas, quase sempre dirigidos ao público não especializado. Acreditava que estimular o conhecimento e o raciocínio impediria a propagação da irracionalidade e do preconceito. Sua produção foi especialmente farta na década de 1920: nesse período, ele publicou um guia em que expôs as bases da teoria da relatividade de Albert Einstein (1879-1954), lançada em 1905. Para as comemorações do centenário desse e de outros trabalhos revolucionários do físico alemão, foi publicada no Brasil uma nova edição do ABC da relatividade .
No início do século 20 a física clássica não consegue mais explicar certos resultados práticos, sobretudo em problemas que lidam com altas velocidades. Os físicos percebem que as leis de Newton, bem adaptadas às baixas velocidades da Terra, apresentam inconsistências quando aplicadas ao movimento de certos astros e precisam ser revistas. Muitas soluções matemáticas surgem para resolver essas discrepâncias, mas todas carecem de uma base teórica que as fundamente. A relatividade vem resolver esse problema, ao propor novas idéias que criam uma teoria muito mais completa e independente que a anterior.
Em linhas gerais, a relatividade especial, de 1905, torna sem sentido as noções de espaço e de tempo absolutos e de simultaneidade, presentes na física newtoniana: para observadores diferentes, um mesmo evento pode ocorrer em tempos diferentes. Einstein introduz o conceito de espaço-tempo, no qual a distância entre dois eventos passa a ser dada por intervalos espaciais e temporais.
O livro descreve ainda a relatividade geral, proposta por Einstein em 1915, na qual ele repensa a teoria da gravitação proposta no século 17 por Isaac Newton. Segundo o alemão, qualquer corpo gera uma dobra na estrutura do espaço-tempo, que acaba por atrair outros corpos, os quais buscam somente o caminho mais fácil para se deslocar, numa espécie de “preguiça universal”, nas palavras de Russell.
Para explicar o nascimento da teoria da relatividade, o filósofo britânico expõe os principais postulados da física clássica e as incompatibilidades entre eles e os novos fenômenos observados. Apresentar a relatividade, no entanto, envolve uma série de dificuldades, devido ao grau de abstração necessário em alguns momentos, ao enraizamento dos conceitos clássicos em nosso imaginário e aos próprios sentidos humanos, muitas vezes enganosos. Por isso, Russell opta por uma explicação passo a passo de cada uma das novas idéias de Einstein.
Para tornar o texto mais palatável, o autor quase não recorre à matemática e abusa da irreverência e das simplificações (algumas bem sucedidas, outras nem tanto). Piadinhas pontuam o texto e atenuam a complexidade conceitual dos temas abordados. O autor não cai, no entanto, no sensacionalismo e nem reduz tudo a meras “curiosidades” – uma tendência bastante comum em uma certa divulgação científica praticada hoje.
O livro consegue dar a um leitor atento as bases necessárias para começar a entender a relatividade. Porém, não se propõe dissecá-la completamente e deixa diversos pontos sem explicação. A linguagem e as citações do livro permanecem atuais e não provocam estranheza. Por tudo isso, o ABC da relatividade pode ser considerado uma agradável e interessante leitura, em especial para os não iniciados nos mistérios da física.