Para entender os dados do desmatamento

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) anunciou ontem, em evento com a presença do presidente Lula e da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, a menor taxa anual de desmatamento na floresta amazônica nos últimos 21 anos: 7 mil km2. O novo resultado, estimado pelo sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), representa uma queda de cerca de 45% em relação ao período 2007-2008, quando a devastação registrada foi de 12,9 mil km2.

Mapas do desmatamento
Os mapas mostram a distribuição da intensidade do desmatamento na região amazônica em 2009 (no alto) e 2008. As áreas mais escuras representam os locais com maior degradação, acima de 400 km2 (fonte: Inpe).

A notícia é excelente e deve ser comemorada – como fez o diretor do Inpe, Gilberto Câmara,  em seu Twitter ao longo do dia de ontem. “Amazônia: hoje foi o dia para o qual muitos trabalharam durante décadas, e não conseguem acreditar que finalmente aconteceu”, escreveu ele.

No entanto, não devemos perder de vista o olhar crítico na análise desses dados. Desde o momento do anúncio, os novos números do desmatamento despertaram na internet algumas reações pouco otimistas que ajudam a colocar em perspectiva os números apresentados.

Em sua página, a ONG Greenpeace lembra que, apesar da redução, a área desmatada ainda é maior do que a do Distrito Federal. A organização condenou a postura otimista do governo em relação aos números, que “não são dignos de aplauso”. O texto lembra ainda que os dados anunciados são preliminares, baseados em 75% das áreas analisadas, e que podem piorar quando forem divulgados os números finais. No ano passado, a diferença entre o índice consolidado e o preliminar foi de 1.000 km2.

Quem também fez uma análise crítica do anúncio foi Claudio Angelo, editor de ciência da Folha de S. Paulo. Ele condenou o crédito dado a Dilma Rousseff pela redução do desmatamento durante o anúncio – segundo o jornalista, a boa notícia seria obra, sobretudo, da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que deu início às políticas de comando e controle ambiental continuadas por seu sucessor, Carlos Minc. Em análise publicada na Folha de hoje (apenas para assinantes), Angelo chamou a atenção para outro fator decisivo para a redução do desmatamento: a crise econômica mundial que derrubou o agronegócio brasileiro.

O cientista político Sergio Abranches, que fez ontem uma cobertura bastante crítica do anúncio pelo Twitter, postou hoje uma análise do anúncio em seu blogue, Ecopolítica. Abranches lembra que a redução não será durável se não houver uma mudança radical na política para a Amazônia.

Por fim, o jornalista Maurício Tuffani, editor do blogue Laudas Críticas, criticou a cobertura do desmatamento pela mídia. Ele lembrou que quase nada foi dito sobre os dados do relatório Prodes referentes ao ano passado, quando o aumento de áreas degradadas foi de 61,1%.

 

Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line