Tradicionalmente, o melhor jeito de se fazer ouvir é falar do alto. Pode ser do alto de um palanque, do alto de um estádio, do alto de uma… caixa. Um púlpito é um púlpito, seja ele qual for.
Os britânicos têm tradição nesse negócio de subir numa caixa para discursar. Na região, há o receio de se falar mal da família real, sob risco de se envolver em problemas legais. A lenda diz que uma das maneiras de fugir dessa proibição monarca é ‘elevar-se’ alguns palmos do chão e assim, com os pés fora do solo britânico e do alto de uma caixa, blasfemar contra os nobres.
É claro que a caixa não garante qualquer tipo de foro privilegiado, mas fato é que a moda pegou na Inglaterra e, desde o século 19, a turma se reúne para reclamar no púlpito-caixa mais famoso da região: uma área do Hyde Park, em Londres, conhecida como Speaker’s Corner (espécie de ‘palanque para oradores’).
Pegando carona no hábito arraigado na cultura britânica de subir numa caixinha para propalar e defender ideias, cientistas mulheres resolveram promover o Soapbox Science (Ciência no Palanque, em tradução livre), evento que teve a sua segunda edição na última sexta-feira (22/7).
Organizado pela Sociedade de Zoologia de Londres e pelo Programa L’Oréal-UNESCO para mulheres na Ciência, o Soapbox Science tem, antes de tudo, um caráter de protesto. Sim, um protesto – como o próprio patrocinador diz – por “mais mulheres na ciência”.
Mas a atividade foi muito além do brado feminino. Possibilitou também àqueles que passavam por South Bank, no centro de Londres, a chance de ouvir o time de cientistas falando do alto de suas pequenas caixas sobre os mais variados temas: o universo, a mente dos corvos, os cristais e a nova medicina e o sistema de orientação dos morcegos.
As falas foram das mais válidas – positivas para a divulgação da ciência, positivas para a ‘causa feminina’ no meio. E não custou nada; talvez apenas o preço da caixa de madeira que serviu de palanque para as moças. Iniciativa para mirar e replicar.
Assista a uma reportagem, em inglês, sobre o evento
Thiago Camelo
Ciência Hoje On-line