Pesquisas para rir e pensar

O dispositivo para repelir adolescentes, contemplado com o Ig Nobel da paz, produz um ruído perturbador audível apenas por jovens. (Foto: divulgação/ Compound Security Systems)

O prêmio Ig Nobel, organizado pela revista de humor científico Annals of Improbable Research e dedicado às pesquisas que “antes nos fazem rir e depois pensar”, contemplou neste ano, entre os dez trabalhos laureados, um dispositivo supersônico antiadolescentes. O aparelho, criado pelo norte-americano Howard Stapleton e premiado na categoria paz, produz um barulho perturbador audível somente por jovens, capaz de afastá-los em apenas alguns minutos. No site do fabricante , o produto é justificado como útil para evitar as reuniões entre adolescentes arruaceiros “em qualquer lugar que eles causem problemas”. Outro fator que destacou o mérito da descoberta foi a utilização da mesma tecnologia para fabricar toques de telefones audíveis apenas por adolescentes e não por seus professores.

Stapleton foi o único dos laureados que não participou no dia 5 de outubro da 16ª edição do evento, realizado anualmente sob aplausos e chuvas de aviões de papel em auditório da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os espanhóis Antonio Mulet, José Javier Benedito e José Bom enviaram um vídeo com seu discurso de aceitação do prêmio de química pelo estudo ‘Velocidade ultra-sônica do queijo cheddar quando afetado pela temperatura’.

Estudo que mostra por que o pica-pau não tem dores de cabeça ganha prêmio na categoria ornitologia. Arte: Louis Agassiz Fuertes (1874 – 1927).

Outro destaque da noite foi o prêmio de ornitologia (parte da zoologia que trata das aves) para o estudo dos norte-americanos Ivan Schwab e Philip May, que explorou e explicou como o pica-pau pode passar a vida golpeando a cabeça contra a parede e não ter dor de cabeça. No quesito biologia, os ganhadores foram um holandês e um italiano, que mostraram que a fêmea do mosquito transmissor da malária ( Anopheles gambiae ) é igualmente atraída pelo aroma do queijo limburguês (original de Limburgo, Bélgica) e pelo cheiro dos pés humanos.

O prêmio de nutrição foi para um trabalho, realizado por pesquisadores do Kuwait, sobre como besouros de esterco ( Scarabaeus cristatus ) são ‘comedores meticulosos’. A equipe descreveu a preferência desses animais pelas fezes mais fluidas de cavalos, em comparação com as de outros animais herbívoros e especialmente as dos carnívoros. Um estudo norte-americano sobre o fim de soluços intratáveis com massagem retal digital ganhou o prêmio de medicina.

Os laureados deste ano no quesito acústica foram três norte-americanos que explicaram por que as pessoas detestam o barulho de unhas arranhando um quadro-negro. Dois australianos levaram o prêmio de matemática por calcular quantas fotografias é necessário tirar para que ninguém apareça piscando em uma foto de grupo.

O prêmio Ig Nobel de física foi para estudo que explica por que, quando dobramos espaguete seco, ele freqüentemente se rompe em mais de dois pedaços.

Já o prêmio de física foi para o trabalho de dois franceses que mostrou por que, quando dobramos espaguete seco, ele freqüentemente se rompe em mais de dois pedaços. Outro norte-americano ganhou o prêmio de literatura por seu trabalho ‘Conseqüências do vernáculo erudito utilizado independentemente da necessidade: problemas com o uso de palavras longas desnecessariamente’.

Os prêmios foram entregues – como de costume – por genuínos ganhadores do Nobel. O físico norte-americano Roy Glauber, que participou das últimas dez edições do evento apenas varrendo os aviõezinhos do palco, teve este ano essa tarefa extra, por ter ganhado o Nobel de física em 2005. Glauber passou uma noite atarefada: também foi o prêmio do concurso ‘Ganhe um encontro com um laureado do Nobel’ e atuou – junto com outros laureados pela Real Academia Sueca de Ciências e as cantoras Margot Button e Gina Beck – em uma miniópera sobre a inércia.

 

Marina Verjovsky

Ciência Hoje On-line

06/10/2006