Paulo Teixeira, químico da UFMT, apresenta os resultados de
seu grupo na Reunião Anual da SBPC (foto: Bernardo Esteves)
As propriedades medicinais potenciais dessas espécies foram apresentadas na Reunião Anual da SBPC pelo químico Paulo Teixeira de Sousa Jr., do Laboratório de Pesquisas em Química de Produtos Naturais da UFMT.
Uma das espécies testadas por Teixeira é a Acosmium dasycarpum , conhecida popularmente como perobinha-do-campo, entre outros nomes. Na medicina popular, ela é receitada como antiinflamatório. Os testes realizados na UFMT confirmaram essa propriedade, além de indicar que ela possui compostos de ação antioxidante e antimicrobiana. Um artigo que relata os resultados do estudo já foi aceito para publicação na revista alemã Zeitschrift für Naturforschung .
Outra espécie estudada foi a Calophyllum brasiliense , conhecida como jacareúba, guanandi e outros nomes. Ela é indicada popularmente para úlcera — ação confirmada pelos testes realizados pela equipe de Teixeira. Um pedido de patente para essa atividade já foi solicitado pelos pesquisadores da UFMT.
A terceira espécie apresentada foi a Spiranthera odoratissima , cujo nome popular é manacá. Suas raízes e folhas são amplamente empregadas no tratamento de sífilis, infecção dos rins, abscesso e reumatismo. “No caso dessa espécie, nossos ensaios farmacológicos não corroboraram o uso popular da planta”, conta Teixeira. “Mas mostramos, por outro lado, que ela pode ter potencial contra malária, câncer e diabetes.” O estudo foi encaminhado para publicação na revista Phytochemistry.
Teixeira faz questão de ressaltar que nenhuma das espécies estudadas ou compostos delas isolados foram testados em seres humanos. Assim, pode levar tempo até que seja desenvolvida uma droga delas derivadas — caso isso aconteça. “Mas como essas plantas têm indicação popular para esses tipos de tratamento, é possível que suas propriedades terapêuticas sejam corroboradas nos testes clínicos”, acredita o químico.
Apesar dos resultados promissores obtidos pelo grupo de Teixeira, o imenso potencial médico e econômico da flora do Pantanal ainda é muito pouco conhecido pela ciência brasileira. Teixeira atribui o fato à falta de pesquisadores estabelecidos no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul — estados de ocupação recente. “Sou o único químico de produtos naturais com doutorado na UFMT”, exemplifica.
Para ele, o desenvolvimento de uma massa crítica é fundamental — inclusive para que se combata a biopirataria: “É investindo no conhecimento e na pesquisa que vamos gerar competência e sair na frente dos estrangeiros para explorar nossa biodiversidade.”
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
20/07/04