Políticas econômicas mais eficazes

Finn E. Kydland e Edward C. Prescott

O Nobel de economia de 2004, anunciado em 11 de outubro pela Real Academia Sueca de Ciências contempla um importante campo da macroeconomia: as pesquisas sobre ciclos de negócios e políticas econômicas. O prêmio será dividido pelo norueguês Finn Kydland e pelo norte-americano Edward Prescott.

Os laureados criaram um novo modelo de análise de ciclos de negócios que permitiu formular políticas econômicas eficazes e explicar o fracasso da política implementada por alguns governos. Suas idéias serviram como base para reformas em bancos centrais em diversos países do mundo durante a última década.

Kydland e Prescott ofereceram um novo paradigma operacional para análise macroeconômica baseada em fundamentos microeconômicos. O trabalho de ambos modificou tanto a pesquisa acadêmica em economia como a prática de análises macroeconômicas e a formulação de políticas econômicas governamentais.

Os economistas publicaram em conjunto dois principais artigos sobre o tema, em 1977 e 1982. No primeiro, eles formularam um conceito fundamental para compreender por que algumas políticas econômicas tinham efeito oposto ao desejado — o chamado problema de inconsistência intertemporal , que relaciona a discrepância entre as decisões políticas tomadas em diferentes momentos do tempo e as expectativas de diversos setores da sociedade. Desde então, essa noção tem sido aplicada para a definição de linhas de ação mais efetivas.

“Essas idéias estimularam a criação de instituições que garantam que o governo vá manter as políticas econômicas, como os bancos centrais independentes, e a Lei de Responsabilidade Fiscal, no Brasil”, explica o economista e matemático Aloísio Pessoa de Araújo, professor do Instituto de Matemática Aplicada (Impa) e diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (EPGE/FGV).

Já o artigo de 1982 transformou a chamada teoria dos ciclos de negócios ao integrá-los com a teoria de crescimento econômico. Os laureados formularam a base para a criação de modelos mais robustos de ciclos de negócios que permitiam explicar suas flutuações.

O modelo por eles proposto descreve os ciclos de negócios em função das decisões de diversos atores da economia envolvendo fatores como consumo, investimentos ou horas trabalhadas. Os modelos anteriores eram baseados nas relações históricas entre variáveis macroeconômicas. “Kydland e Prescott introduziram elementos da microeconomia na análise da macroeconomia”, avalia Araújo.

As teorias de Kydland e Prescott possibilitaram a criação de modelos analíticos mais confiáveis e incentivaram o estabelecimento de diversos programas de pesquisa. A análise do problema da inconsistência intertemporal nas políticas econômicas teve grande influência na definição das atuais políticas públicas.

Eliana Pegorim
Ciência Hoje On-line
12/10/04