Por um cardápio diversificado

Formas de abordar conjuntamente nutrição e biodiversidade estão na pauta de discussões e negociações da COP8, que prossegue até 31 de março. Paralelamente à programação oficial, um evento tratou da relação entre esses temas. 

Emile Frison: “A qualidade nutricional da alimentação está diretamente ligada à biodiversidade agrícola”. Fotos: Célio Yano.

O diretor do International Plant Genetic Resources Institute, Emile Frison, considera que boa parte da geração atual tem adotado dietas simplificadas, sem dar a devida atenção à qualidade nutricional dos alimentos consumidos. Segundo ele, a variedade de nutrientes contidos nos alimentos foi drasticamente reduzida nas últimas décadas. A raiz do problema, segundo ele, está na queda de biodiversidade na agricultura. As conseqüências são a fome e a desnutrição, que assolam grande parte dos países em desenvolvimento.

 

Pesquisas da FAO (órgão da ONU responsável por políticas de alimentação e agricultura) mostram que é grande a diferença de concentração dos nutrientes alfa e beta-caroteno em variedades de batata. Com o consumo de um único tipo de batata, não há equilíbrio na quantidade de nutrientes ingeridos. A própria FAO criou a Comissão Internacional do Arroz, que recomenda, entre outras medidas, o plantio de múltiplas variedades do cereal. A organização afirma que, para se obter maior quantidade de nutrientes, a diretriz deve ser seguida antes da utilização de variedades transgênicas.

 

Frison defende a criação de um conjunto de políticas que permita ampliar o número de variedades de espécies nos plantios e maior diversidade de sistemas agrícolas. O foco deve estar nas culturas tradicionais, ignoradas ou pouco utilizadas. Além da diversificação nas plantações e no consumo, uma campanha de conscientização pública é essencial para reduzir o quadro de subnutrição. Ele apresentou dados da Índia e do Quênia, onde ações nesse sentido foram implementadas há algum tempo.

 

Na Índia, com a implantação de cultivos mais diversificados de milheto, a quantidade de glicose caiu, e o número de nutrientes consumidos pela população aumentou. No Quênia, teve início um projeto de plantio de cerca de 200 diferentes espécies de verdura. Apesar dos altos índices de pobreza entre os quenianos, a medida deverá elevar o número de nutrientes de sua alimentação.

 

Paulo Kageyama, do ministério do Meio Ambiente, apresenta as iniciativas brasileiras para diversificação de cultivos.

Paulo Kageyama, diretor do programa nacional de conservação da biodiversidade, do ministério do Meio Ambiente, apresentou as iniciativas brasileiras voltadas para melhorar a qualidade da dieta da população mais pobre. O programa Fome Zero, aliado a ações nas áreas de agricultura, meio ambiente, saúde, C&T e educação, busca aumentar a diversidade de plantios e conscientizar a população para a necessidade de uma alimentação rica em nutrientes.

 

A boliviana Elza Alcocer Vargas apresentou a situação de seu país, onde a quinua, a cañahua e o amaranto são os principais cultivos tradicionais. Lá, por meio de ações conjuntas entre ONGs, setor industrial e instituições sociais, a variedade de espécies tem aumentado em níveis significativos.

 

Diretamente ligada à diversidade biológica, a nutrição deverá ser tema de discussão na plenária oficial da COP8. Esta é a primeira vez que o assunto é incluído na agenda da convenção.

 

 

 

Célio Yano

 

Especial para a CH On-line / PR
22/03/2006