Prêmio consagra luta contra aquecimento global

(arte: Fundação Nobel)

O Nobel da Paz de 2007 será dividido pelo ex-vice-presidente americano Al Gore e pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – organismo da Organização das Nações Unidas dedicado ao entendimento do aquecimento global. O prêmio consagra a cruzada que ambos vêm travando para alertar a opinião pública mundial sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas provocadas pela ação humana. 

A láurea contempla “seus esforços para construir e disseminar um maior conhecimento sobre as mudanças climáticas produzidas pelo homem e para estabelecer as fundações para as medidas necessárias para combater essas mudanças”, segundo o anúncio da premiação, divulgado na manhã de hoje pelo Comitê Norueguês do Nobel.

Cada um a seu modo, o IPCC e Al Gore têm contribuído para colocar a ameaça do aquecimento global em pauta. Ambos têm chamado a atenção da opinião pública mundial para os possíveis impactos do aumento da temperatura verificado nas últimas décadas, motivado em grande parte pela crescente emissão de gases do efeito estufa na atmosfera decorrente da ação humana.

Se continuar a ocorrer no ritmo atual, o aquecimento global representa uma séria ameaça à segurança do planeta. Com o aumento das temperaturas e dos níveis dos mares e com a desregulação dos ciclos climáticos, a tendência é que haja um maior índice de doenças, de migrações em massa e de conflitos pelo controle dos recursos naturais cada vez mais escassos.

A culpa é do homem
A contribuição do IPCC para tornar pública a questão do aquecimento global é feita sob a forma de relatórios científicos, que reúnem as conclusões de milhares de cientistas de todo o mundo, ligados a várias disciplinas. O organismo foi criado em 1988 e já produziu quatro grandes relatórios, o último deles divulgado este ano. Entre outras conclusões, o documento atribuiu de maneira inequívoca o aumento recente das temperaturas do planeta à ação humana e destacou a necessidade de se agir já caso se queira minimizar o impacto das mudanças climáticas.

O ex-vice-presidente americano Al Gore, contemplado com o Nobel da Paz de 2007 (foto: Scanpix/Tom Hevezi)

Já Al Gore (Albert Arnold Gore Jr., em 1948) tem discutido as mudanças climáticas em livros, conferências e entrevistas. Desde que deixou a Casa Branca, como o vice de Bill Clinton durante seus dois mandatos, entre 1993 e 2001, Gore tem corrido o mundo com uma série de palestras multimidiáticas sobre aquecimento global. Em 2006, suas apresentações foram transformadas no filme Uma verdade inconveniente , que acabou levando o Oscar de melhor documentário deste ano.

Alguns críticos condenam o filme de Gore por ser excessivamente alarmista e por conter imprecisões científicas. De qualquer forma, o vice-presidente americano tem o mérito de colocar as mudanças climáticas na ordem do dia. “Ele é provavelmente o indivíduo que mais fez para criar um maior entendimento em escala mundial das medidas que precisam ser adotadas [para se combater o aquecimento global]”, afirma o comunicado oficial do Comitê Norueguês do Nobel.

O anúncio deve ajudar a aumentar a visibilidade do debate sobre as mudanças climáticas. “O prêmio deve dar um novo ímpeto aos esforços para uma ação conjunta na diminuição da emissão de gases do efeito-estufa e na ajuda às comunidades vulneráveis a se adaptar às mudanças que vêm pela frente”, afirmou esta manhã em nota à imprensa Saleemul Huq, diretor do grupo de mudanças climáticas globais do Instituto Internacional para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente. “Superar esse desafio global vai demandar liderança política e sacrifícios pessoais em todo o mundo, particularmente nas nações ricas que contribuíram mais para o problema ao longo da história”, acrescentou Huq.

 

 

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
12/10/2007