Reconhecimento merecido

Recebemos com orgulho a notícia de que o neurocientista Roberto Lent, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai receber a edição deste ano do Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica. O anúncio foi divulgado na manhã de hoje na página do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que promove o prêmio desde 1978.

A trajetória de Roberto Lent na divulgação científica se confunde com a história do ICH

O prêmio celebra uma carreira na área da divulgação científica que teve início em 1977, com a organização de conferências científicas para o grande público.

A trajetória de Roberto Lent nessa área praticamente se confunde com a história do Instituto Ciência Hoje (ICH). Lent fazia parte do grupo de cientistas que fundou a revista CH em 1982. A primeira edição, lançada em julho daquele ano, trazia o primeiro artigo de Lent escrito para o grande público, chamado de “Cem bilhões de neurônios”.

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A primeira edição da revista Ciência Hoje foi publicada em julho de 1982. O artigo de capa discutia a poluição em Cubatão (SP).

Mais tarde, o nome do artigo foi retomado no livro de referência sobre neurociência que Lent lançou em 2002 e que ganhou nova edição este ano.

Ele inspirou também a coluna Bilhões de neurônios, que Lent publica na CH On-line desde abril de 2006. Seus artigos, publicados na última sexta-feira do mês, discutem sob o prisma da neurociência temas de grande apelo para o grande público, como as drogas, a música ou a religiosidade.

“Fiquei muito feliz com o anúncio do prêmio”, conta Roberto Lent, que soube da notícia na noite de ontem, por um telefonema de Carlos Alberto Aragão, presidente do CNPq. “Esse prêmio é também do ICH, já que praticamente todas as coisas que constam do meu currículo de divulgação científica estão ligadas ao Instituto”.

Para os pequenos

Roberto Lent revela ter especial apreço por suas ações de divulgação científica para crianças, como a série de tirinhas A turma do Zé Neurim e a coleção de livros Aventuras de um neurônio lembrador, mais tarde adaptada para o teatro. “Fazer esses livros e a peça estão entre as coisas que mais me deram prazer e gratificação”, conta.

“Em divulgação científica, passamos do Paleolítico para o Neolítico”

Lent manifesta orgulho também ao falar da CH, que tem uma persistência rara entre as publicações brasileiras do gênero – a revista completa 28 anos em julho. Mas ele é realista ao traçar um paralelo entre o cenário atual da divulgação científica no Brasil e o que havia quando surgiu a CH.

“Avançamos nesse terreno, mas ainda estamos devendo”, pondera o neurocientista. “Ainda há dificuldade para se obter ações dos cientistas ou das universidades. A ciência não faz parte da  cultura. Em divulgação científica, passamos do Paleolítico para o Neolítico”, avalia Lent, antecipando o título da conferência que dará para receber o prêmio, na reunião anual da SBPC.

Concorrência acirrada

A edição de 2010 do Prêmio José Reis foi a mais concorrida até aqui – 110 candidaturas foram apresentadas ao CNPq. O nome de Lent foi escolhido por uma comissão julgadora com oito integrantes.

Esta é a quinta vez que o ICH é contemplado com o José Reis. Em 2008, o prêmio foi para a jornalista Alicia Ivanissevich, editora-executiva da revista CH. O jornalista Roberto Barros de Carvalho, atual coordenador da Sucursal Sul do ICH, foi contemplado em 1996. As revistas CH e CH das Crianças também já levaram o prêmio, em 1983 e 1991, respectivamente.

O prêmio contempla indivíduos e iniciativas que contribuem para a difusão da ciência, da tecnologia e da  inovação para o grande público. Seu nome é uma homenagem ao médico, pesquisador, jornalista e educador José Reis, um dos pioneiros da divulgação científica no Brasil.

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line