Relatos de ancestrais

Por ocasião dos 50 anos da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), três professores titulares aposentados de universidades federais do Sul do Brasil reuniram a história regional dessa ciência na obra intitulada Memória da antropologia no Sul do Brasil . Cada capítulo traz um detalhado retrospecto de como a antropologia começou a ser feita no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, tornando-se, no conjunto, uma preciosa fonte de informação para aqueles que têm interesse em conhecer a evolução desses estudos não só nas instituições federais de ensino superior, mas também nos demais centros de pesquisa da região que se dedicam a essa área de conhecimento.

Cecília Vieira Helm, que acompanhou a criação do Departamento de Antropologia da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Paraná, diz que no estado é impossível desvencilhar os estudos antropológicos do nome de José Loureiro Fernandes (1903-1977). Formado em medicina, Fernandes foi pioneiro no estudo de campo de grupos indígenas paranaenses – como os Kaingang, os Guarani e os Xetá – e posteriormente esteve à frente da fundação de vários órgãos de ensino e pesquisa do estado. Foi responsável também pela criação do Museu de Arqueologia, Artes e Tradições Populares da Universidade do Paraná, localizado na cidade histórica de Paranaguá, que reúne notável acervo de peças de grupos indígenas brasileiros.

O capítulo sobre Santa Catarina coube a Sílvio Coelho dos Santos, que na década de 1960 se vinculou à Universidade Federal de Santa Catarina como professor de antropologia social e etnologia indígena. Ele relata que nesse estado foi pioneiro no campo das pesquisas antropológicas o médico, historiador e político Oswaldo Rodrigues Cabral (1903-1994), estudioso da cultura popular – o que ajuda a explicar a tradição que Santa Catarina tem em estudos sobre folclore.

No Rio Grande do Sul, a antropologia teve início com a nomeação, em 1943, do padre jesuíta Balduíno Rambo (1905-1961) como primeiro professor dos cursos humanísticos da Faculdade de Filosofia da então Universidade de Porto Alegre. Naquela época, eram oferecidas apenas três disciplinas ligadas à antropologia: etnologia geral, etnografia do Brasil e antropologia física. O capítulo sobre a antropologia gaúcha coube ao pesquisador Sérgio Alves Teixeira.

Helm diz que o foco dos estudos antropológicos em grupos indígenas era uma tendência presente não só na região Sul, mas em todo o Brasil. “Hoje há pesquisa sobre vários temas, como violência, poder, política, entre outros; mas antigamente o forte era mesmo estudar os povos indígenas.”

Para a autora, a obra é de grande valor para as novas gerações de antropólogos, que nela vão encontrar muitos dados sobre a pesquisa em antropologia no Sul do país. “Além disso”, considera Helm, “o livro é também uma homenagem aos pioneiros da antropologia na região”.

O grande número de imagens que ilustram o texto só faz ampliar o valor histórico da obra. As fotografias e cópias originais de cartas e outros documentos foram resgatadas de departamentos acadêmicos, de órgãos públicos e de arquivos dos autores. 

Memória da antropologia no Sul do Brasil
Sílvio C. dos Santos, Cecília V. Helm e Sérgio A. Teixeira
Florianópolis, 2006. Editora da UFSC / ABA
Tel.: (48) 3331-9408 / 3331-9605
205 páginas – R$ 25,00

Gabriela Diniz
Especial para a CH On-line / PR
03/01/2007