Religião e obesidade

Resultados muito estranhos brotam de pesquisas epidemiológicas – coisas como ‘quem calça primeiramente o pé esquerdo do sapato tem mais chance de desenvolver certa doença’.

Cabe aos especialistas filtrar essas relações. Ou ter a mente afiada para perceber aquelas que à primeira vista podem parecer sem nexo, mas que se mostram promissoras e interessantes.

Esse foi o caso de Matthew Feinstein, estudante do quarto ano da Escola de Medicina da Universidade Northwestern (Estados Unidos), que acaba de apresentar um trabalho no qual mostra que pessoas que vão à igreja pelo menos uma vez por semana têm 50% a mais de chance de se tornarem (ou se manterem) obesas na meia-idade – no caso, índice de massa corporal igual ou acima de 30.

Muitas religiões têm como tradição festas e sobremesas depois dos trabalhos religiosos

Por quê? Só há por enquanto hipóteses. Feinstein tem a sua: talvez, a associação entre felicidade (amigos, fé religiosa, alegria etc.) e comida (do tipo não saudável) seja a resposta ou parte dela, arrisca o autor. Muitas religiões têm como tradição festas e sobremesas depois dos trabalhos religiosos.

Os autores – há entre eles pesquisadores com doutorado – analisaram os dados de 2.433 pessoas que foram acompanhadas por 18 anos, participantes do estudo epidemiológico de longo termo Cardia.

Feinstein alerta para o fato de que aquelas que vão frequentemente à igreja não têm a saúde pior que as que não vão. Elas têm apenas mais chance de se tornarem obesas. Mas, a reboque, lembra que estar além do peso considerado saudável aumenta os riscos de doenças cardíacas, diabetes e alguns cânceres.

Por outro lado…

Vale acrescentar que outros estudos já mostraram que pessoas religiosas tendem a viver mais que a média da população, porque tendem a fumar menos – algumas igrejas condenam o tabagismo.

Outros estudos já mostraram que pessoas religiosas tendem a viver mais que a média da população, porque tendem a fumar menos

Como obesidade – principalmente, nos Estados Unidos – está se tornando epidêmica, Feinstein diz que seria uma boa chance de as organizações religiosas promoverem uma conscientização de seus seguidores, no sentido de se alimentarem de modo mais saudável.

O trabalho de Feinstein e colegas – apresentado na última reunião da Associação Norte-americana de Cardiologia, em Atlanta – foi submetido para publicação, mas ainda não recebeu a aceitação da revista, informa à CH a assessoria de imprensa da Universidade Northwestern.

Em tempo: estudo feito por pesquisadores dos Estados Unidos com base em modelos matemáticos indicou que a religião e a afiliação religiosa podem estar bem perto da extinção na Austrália, Áustria, República Tcheca, Finlândia, Irlanda, Nova Zelândia, Suíça, Holanda e no Canadá.

Dados – que chegam a ter cerca de 100 anos – mostraram que o percentual de pessoas que se classificam como ‘sem religião’ está crescendo. Nesse sentido, o maior índice foi obtido entre os tchecos: 60%.

Cássio Leite Vieira
Ciência Hoje/ RJ