Rio+20 chega às escolas

A coordenadora pedagógica Solange Lacorte investe na abordagem de questões ambientais desde 2009 na escola municipal em que trabalha. Em outra escola pública, o coordenador pedagógico Fabrício Macedo planeja ações de conscientização acerca do lixo gerado dentro e fora da escola para 2012. As duas iniciativas são exemplos de inserção da discussão ambiental no âmbito escolar.

Em ano de Rio+20, a preocupação com meio ambiente, saúde e inclusão social ganha mais força nas escolas. Com o objetivo de trabalhar essas temáticas em sala de aula, os professores buscam dialogar entre si, trocar experiências e incorporar maior reflexão teórica sobre o assunto.

Essa demanda ficou evidente no debate ocorrido na semana passada (12/03) durante a palestra ‘Saúde, ambiente e sustentabilidade: perspectivas para a Rio+20’. Promovida pelo Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a palestra foi a primeira dos ’Encontros de educação, ciências e saúde’, que acontecerão mensalmente até o fim do ano.

A questão social se coloca como um entrave ao debate ambiental dentro das escolas públicas

Nas perguntas levantadas pela plateia – formada, em sua maioria, por coordenadores pedagógicos da 4ª Coordenadoria Regional de Ensino (CRE) do Rio de Janeiro – foi possível perceber que a questão social se coloca como um entrave ao debate ambiental dentro das escolas públicas.

Como o professor pode se apropriar de questões ambientais na prática de ensino se o ambiente escolar não oferece condições adequadas de trabalho nem proporciona bem-estar aos alunos? Como trabalhar em conjunto com as comunidades que vivem no entorno da escola?

Uma iniciativa que serve como exemplo para superar esses obstáculos teve início há três anos, quando Solange Lacorte inseriu, no projeto político pedagógico da Escola Municipal Professora Maria de Cerqueira e Silva, no Rio de Janeiro, a interação com a comunidade de Manguinhos como meta para o corpo docente. “Em 2009, reuni os professores e fizemos um passeio para conhecer a comunidade”, contou a coordenadora. “Foi impactante. Uma das professoras nos disse que finalmente entendeu por que o caderno de um aluno vivia cheio de barro.”

Outra questão levantada no debate diz respeito ao espaço de participação para alunos e professores na Rio+20. Uma das sugestões apresentadas foi a preparação de atividades que possam ser levadas à Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20 organizado pela sociedade civil e que terá participação aberta do público.

Dos governantes aos alunos

Ministrante da palestra, o psicólogo Francisco Netto, assessor da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, acentuou a importância da atuação dos professores nas esferas locais e em problemas concretos. Segundo ele, “tudo começa com cooperação, diálogo e ações coletivas”.

Francisco Netto
Ao discutir a inserção da saúde ambiental na Rio+20, o palestrante Francisco Netto enfatizou a importância da troca de experiências entre docentes para lidar com questões socioambientais nas escolas. (foto: Luanda Lima)

“Acredito que a Rio+20 seja um grande pretexto para mobilizarmos a sociedade e fazer com que importantes questões apareçam”, enfatizou Netto. “O que nós vemos é a vontade dos professores de traduzir esses temas e trazê-los para dentro das escolas.”

Netto integra o grupo de trabalho sobre saúde na Rio+20, que, em parceria com o Ministério da Saúde, está construindo um documento base sobre o tema para o evento. Nele, serão incluídas as dimensões sociais da saúde – em consonância com a Política Nacional de Saúde Ambiental – e informações sobre como o setor poderá contribuir para a economia verde, assunto prioritário na conferência.

O assessor acredita na importância da conexão entre os níveis político-governamental – que prevalece na Rio+20 – e educacional, com vistas à formação básica dos alunos. “É interessante que a gente saia de um diálogo institucional e incentive a discussão entre outros setores, que têm historicamente um déficit de informação, em prol de uma educação com maior densidade.”

Gabriela Reznik
Especial para Ciência Hoje On-line